Renan Barreto: "Videogame deixou de ser o console ou o computador"

Renan Barreto: "Videogame deixou de ser o console ou o computador"

Em entrevista, gerente da Brasil Game Show abordou evolução do mundo dos jogos

Guilherme Testa

Barreto ressaltou importância dos smartphones no cenário gamer

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O Brasil tem intensificado o seu interesse pelo controle. E não é o da TV; e sim o do videogame. De acordo com pesquisa da NewZoo, em julho do ano passado, 75 milhões de brasileiros eram usuários de games. Isso fez com que o país assumisse o 13º lugar mundial de consumidores, girando em torno de 1,5 bilhões de dólares na economia. O número não surpreendeu alguns especialistas da área, já que a maior feira de games da América Latina está se preparando para abrir os portões em São Paulo neste mês. 

Renan Barreto é gerente geral da Brasil Game Show e explica que o mundo dos jogos de videogame está em constante mutação: “Antigamente entendia-se que o videogame era coisa de criança. Com a melhora da tecnologia, começamos a ter videogames com capacidades melhores, jogos mais amplos e que começaram a trazer temáticas mais adultas. Com isso, aquela criança dos anos 80, ao invés de comprar para o filho, hoje, compra para ele”, disse.

CP: Houve um aumento do consumo de jogos e mídias digitais pelo meio mobile. A praticidade e o fácil acesso ao smartphone podem ser apontados como fatores decisivos para que esse número tivesse essa crescente? 

Barreto: Videogame deixou de ser o console ou computador. Com a vinda dos smartphones e ele se tornando uma tela quase que principal para as pessoas, faz com que ele seja uma ferramenta também para jogar. Um exemplo disso é o Fortnite: você pode jogar tanto no console, como no PC ou até no smartphone. Não existe mais essa barreira de onde você quer jogar, mas sim a busca pelo o que você quer jogar.

CP: Como você vê os novos perfis de consumo do público gamer?

Barreto: É comum eu pensar que se eu quiser comer alguma coisa, posso ter um aplicativo para pedir comida em casa. Ou ter um aplicativo para um carro vir me buscar. Por que não então utilizar os aplicativos para comprar jogos? Para comprar novas elementos ingame e comprar produtos novos também através da internet. O importante é você ter o produto na sua máquina e poder jogar. É comprar através do controle, do app, do navegador e baixar e instalar diretamente no seu console.

CP: Tu achas que a isenção de impostos, sancionada pelo Presidente Bolsonaro, pode ajudar a mídia física voltar a ter um consumo maior no mercado dos games?

Barreto: Em relação à mudança de mídia, acho que é muito mais uma questão cultural do que necessariamente a redução de impostos. Pensa bem, pelo menos para dentro dos consoles, os valores não são muito diferentes da mídia física para digital. Mas vou sempre olhar com bons olhos qualquer tipo de diminuição de imposto, pois havendo redução, o consumo pode vir aumentar a demanda e crescer, e as empresas virem a investir mais para poder atender a um público maior. 

E a isenção de tributos e impostos sobre jogos feitos no país: Se isso realmente acontecer, vai ser bem bacana pra quem já produz jogos aqui porque a gente vai poder trabalhar com preço mais em competitivo dentro do nosso próprio mercado. Acho que se um produto brasileiro, feito por um estúdio brasileiro sendo vendido mais barato, certamente as pessoas vão procurar comprar mais e conhecer com mais tranquilidade. 

CP: Falta investimento para que o mercado cresça ainda mais no Brasil?

Barreto: Tanto o governo quanto a sociedade como um todo precisam entender que temos que  investir bastante em educação. Criar um profissional capacitado para trabalhar nessa área, pra ele gerar novos produtos nacionais, para que mais pessoas possam encontrar ele, e aí a gente poderá ter mais empregos sendo gerado; e girando, assim, a roda da economia.

CP: O cross-play vem sendo um assunto constantemente debatido no meio gamer. Como ele afeta o consumo do público? 

Barreto: O cara do PC, ele tá muito mais preocupado na performance dele. É um jogador mais preocupado no sentido de ter uma tela de última geração, um mouse com toda sensibilidade possível, um teclado que possa customizar. Existe uma customização muito grande no PC que no console, por sua vez, já não tem esses periféricos variáveis. E dependendo do jogo, obviamente você vai poder jogar com pessoas do seu mesmo console.

O Fortnite conseguiu quebrar as barreiras para o cross-play muito por conta da força que ele tem no mundo. Quando você tem mais de 250 milhões de pessoas jogando, a gente pode começar a pensar nele como concorrente, inclusive de redes sociais, da Netflix, da TV; então ele se transformou num enorme case. Tanto que conseguiu até fazer uma pontinha último filme dos "Vingadores". O cross-play é uma tendência, mas os consoles nunca vão deixar de ter os seus jogos exclusivos. E hoje em dia são os jogos exclusivos que movem a compra e a escolha de um console especificamente além dos serviço que cada um pode oferecer. 

CP: O interesse do público pelas competições também vem crescendo nos últimos anos. É possível que a publicidade sofra alguma mudança no meio?

Barreto: Hoje em dia, há uma cena de competitivo muito grande, né, os jogos se tornaram tão competitivos quanto os esportes convencionais. Uma transmissão de final de um campeonato, assim como o CS:GO masculino e o CS:GO feminino, que a BGS irá transmitir, terá link para todas as plataformas de streaming, replicado em vários outros parceiros de mídia porque as pessoas querem consumir aquela final. Elas querem ver qual é o time que vai ganhar aquela final porque já vem acompanhando o campeonato, assim como acompanhamos o campeonato de futebol ou de vôlei.

E essa exposição dos times pro-players, jogando cenários competitivos, recebendo premiações, acabam gerando transmissões que podem ser comercializadas. Obviamente as marcas que começam a ver esse cenário, ou patrocinam o campeonato ou os próprios times. E aí então a gente começa a ter um ecossistema de trabalho bem mais forte do que era alguns anos atrás. Nesse caso, o e-sport entra como uma forma das marcas também entrarem no mundo dos videogames sem necessariamente fazer uma publicidade ingame ou fazer um advergame sobre a sua marca.

CP: Como a BGS 2019 espera dar espaço para as pequenas produtoras brasileiras?

Barreto: Todo ano a gente faz um evento melhor não só para as empresas, mas principalmente para os visitantes. No nosso caso, como a gente é a Brasil Game Show, as empresas brasileiras têm o seu lugar. A gente começa a dar esse empurrão para que elas possam interagir com mais presença de público. Então entendemos que é o momento em que as empresas conseguem fazer os
testes dos jogos com consumidores finais e receber um feedback na hora, em tempo real com as pessoas. A avenida Indie estará aberta todos os dias da feira (de 09 a 13 de Outubro), na Expo Center Norte, em São Paulo.


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