Rodrigo Picoli: "a população do Haiti necessita de bastante ajuda"

Rodrigo Picoli: "a população do Haiti necessita de bastante ajuda"

Eduardo Andrejew

Rodrigo Picoli, 2º sargento do Corpo de Bombeiros Militar do RS

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Desde 23 de agosto, uma missão de ajuda humanitária brasileira está no Haiti. O país foi atingido por um terremoto que deixou mais de 2 mil mortos, além de milhares de desabrigados. Na equipe brasileira, de 32 bombeiros, está o gaúcho Rodrigo Picoli, 2º sargento do Corpo de Bombeiros Militar do RS. Acumulando experiência de seis anos no Exército e mais de uma década como bombeiro em Caxias do Sul, Picoli participou de várias missões como adido da Força Nacional de Segurança Pública, incluindo Moçambique e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Poderia falar da sua trajetória?

Eu sou o sargento Picoli do Corpo de Bombeiros Militar do RS (CBMRS), atualmente estou cedido para a Força Nacional de Segurança Pública. Atuei em diversas missões no Estado, no país e também fora dele. Ingressei no Exército em março de 2001, no 3º Grupo de Artilharia Antiaérea, em Caxias do Sul. Em junho de 2006, entrei no CBMRS, onde participei de muitas missões de força-tarefa em vendavais em Canela, São Francisco de Paula e Porto Alegre. Faço parte da Força de Resposta Rápida (FR2) do CBMRS. Atuei em missões dos Jogos Olímpicos Rio 2016, jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, e na Missão Complexo Chapadão Pedreira, em 2018, no Rio de Janeiro. Também participei da Missão África-Moçambique, em 2019, por conta de furacões que atingiram o país. No Brasil, participei das Missões Queimadas no Acre e em Rondônia, também em 2019. Atualmente, eu trabalho no Suporte de Saúde Operacional da Força Nacional, devido à minha formação em Enfermagem na Universidade de Caxias do Sul, na missão Haiti, agora em 2021.

Por quanto tempo permanecerá nesta missão no Haiti?

Vamos permanecer apenas 21 dias. É uma missão curta, multidisciplinar de ajuda humanitária. A gente veio ao Haiti para realizar buscas e resgates em estruturas que foram colapsadas devido ao terremoto ocorrido no país.

Seguem as atividades de busca?

Hoje a gente já passou dessa fase e agora estamos na fase de prestar ajuda humanitária.

Como está a situação neste momento?

Tem muitas estruturas colapsadas por aqui. Além disso, a população necessita de bastante ajuda, com todo apoio e trabalho, inclusive com mantimentos e abrigos para famílias que ficaram desalojadas com o terremoto.

Há risco de novos tremores? Ainda ocorrem abalos? Qual a intensidade?

Sim. Todo o dia a gente acompanha alguns abalos sísmicos de baixa intensidade, mas a qualquer momento pode acontecer algum abalo maior que poderá atingir as famílias do país.

Qual é o maior risco enfrentado pela população depois do terremoto?

O risco maior está justamente nessas estruturas que estão colapsadas por causa do terremoto. Há um risco de elas sofrerem outro abalo, como já foi dito. E estas estruturas, em que não haverá tempo hábil para que sejam recuperadas, podem acabar se danificando mais ainda e aí causarem mais acidentes.

Além desses riscos, quais são as maiores carências enfrentadas pela população haitiana nestes dias?

Neste momento há carência de abrigos, alimentos e medicação. Hoje são essas as principais.

Como fica a questão da prevenção contra a pandemia de Covid-19?

Todas as nossas equipes já desembarcaram com as vacinas necessárias tomadas. A gente também fez o teste RT-PCR (exame feito para identificar o vírus e confirmar ou não a doença). Além disso, nós estamos usando máscaras para realizar todos os atendimentos. Também estamos usando álcool em gel e tentando manter o distanciamento total de acordo com a atividade que é realizada por aqui.

Como tem sido a recepção da população à ajuda de vocês?

A recepção das pessoas por aqui é muito boa. A gente também conta com apoio da Embaixada Brasileira e o Brasil tem ótima relação com o país e com esta população. Os brasileiros já estiveram no Haiti durante vários anos, então essa relação tem sido muito boa.

Nas atuais condições, há maior risco de morte ou a situação já está sendo controlada no Haiti?

Em relação ao terremoto ocorrido, foi controlada. A questão, como eu disse antes, é que todos os dias há novos tremores, as estruturas ainda estão danificadas. Se houver outro tremor, poderá ocasionar mais mortes. E isso pode ocorrer justamente por causa dessas estruturas.

Vocês ainda precisam fazer resgate de pessoas presas em estruturas ou em lugares perigosos?

Há alguns locais que são de difícil acesso ainda. São isolados, segundo relatos, pois a gente não é a única equipe que está trabalhando aqui. Existem relatos de que possa haver mais vítimas. Atualmente, a gente passou da fase de resgate na nossa região. Realizamos ajuda humanitária principalmente, com montagem de tendas, distribuição de alimentação, até reconstrução de cenários, retirada de fontes de perigo, entre outras coisas.

Vocês já vivenciaram neste país alguma situação impactante?

Estar em uma missão dessas já é muito gratificante. É o sonho de todos nós, militares, que trabalhamos em prol da nossa sociedade. A gente atende a muitas ocorrências no nosso país e até na nossa própria região, cidade. Aqui, sendo um país diferente, é impactante, porque a gente está acostumado com o nosso país. E, quando chega aqui, é um cenário totalmente diferente, a cultura é totalmente diferente também. Então a gente tem que se adaptar muito. O cenário é de destruição, a força da natureza é muito grande. É isso que mais me chamou a atenção, a força da natureza.

A diferença cultural cria muitas dificuldades para comunicação?

A gente recebe todo apoio da embaixada. Então, tem motorista e tradutores, porque, no caso da língua, além do idioma crioulo haitiano, tem o francês. Mas a população é muito receptiva nessa situação e colabora. Assim, a gente consegue trabalhar sem maiores dificuldades em relação ao idioma.

Vocês agora estão atuando na ajuda humanitária, mas antes precisaram fazer buscas e resgates?

Sim. No início a gente entrou em locais com escombros. Mas, como o terremoto foi uma ocorrência de grande vulto, há várias agências trabalhando nisso por aqui. Só no início ficamos na busca e no resgate. Agora estamos na ajuda humanitária.

Como um cidadão no Brasil poderia ajudar a população do Haiti?

Os brasileiros podem procurar pelo Ministério das Relações Exteriores e algumas ONGs que atuam aqui no país. Podem ficar tranquilos, basta procurar na Internet para ver como se pode ajudar a população do Haiti.


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