Afago e amparo

Afago e amparo

Alina Souza

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A vida pede companhia, não importa forma, cor, tamanho, espécie. Ela ouve os passos na rua e fica afoita para passear ao lado de quem lhe faz bem, e isso basta. Já existe rigidez de sobra neste mundo para nos atermos às classificações. Entre tantas cenas duras, procuramos ternura. Olhos serelepes que não julguem. Ao contrário: alimentem a força da afetividade. Naturalmente portamos uma fonte de afago e amparo sempre na torcida de perambular lá fora. Mas algumas pessoas deixam-a presa, encoberta, atada a desculpas sob camadas brutas. Tentam ser donas da ordem, porém a solidão constante desordena. Mal sabem que o carinho nos guia para um refúgio onde restam flores. Sentimos melhor o encanto ao compartilharmos existências, sejam elas humanas, verdes, quatro patas ou mesmo inventadas — como fazem as crianças com bonecas, os escritores com personagens. A receita é investir amor, cuidado e atenção. Se vierem críticas do tipo “aquela moça não é normal, anda com um cão no carrinho de bebê”, ficará claro que o problema está do lado da gente que pensa deter a razão, mas não compreende a evidente grandeza de estar bem acompanhada.


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