Andar em paz

Andar em paz

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As ruas se tornaram desafio. Um sopro de medo a cada esquina que atravessamos sozinhos, desconfiados, agarrados aos pertences como se eles fossem sumir num passe de mágica. E somem. “Passa a bolsa”, “passa o celular”: frases frequentes no cotidiano, não importa a hora, tampouco o lugar. Entregamos, não há outra saída. Reagir não vale a pena, é entregar também a própria vida.
Por vezes, o fato demora anos para ser apagado da memória. Transforma-se em cicatriz, pesadelo, sombra que perturba. Como se não bastasse a dor do acontecimento em si, temos de enfrentar a culpa latente por andar em tal via, em determinado instante. Peraí! Não somos nós que erramos. Não podemos trancafiar nossa sede de viver.
Temos o direito de circular livremente nos espaços públicos, em paz. O problema é complexo e sistêmico, enraizado numa sociedade desigual. Vencer o crime requer um exame clínico. Enquanto não diagnosticadas e evitadas as causas, os vultos continuarão a nos perseguir.
(Texto e fotos: Alina Souza)


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