Aprendendo com as aves

Aprendendo com as aves

Alina Souza

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Eu vejo passarinhos verdes. Eles construíram uma comunidade em uma árvore aqui perto de casa. Alguém me disse que estão por toda parte em Porto Alegre. Respondi: “ainda bem”. Ninhos de esperança em dias abarrotados de notícias tristes. Quando a fase difícil passar, saberemos valorizar melhor a liberdade, como bem fazem as aves. Alegres, chamativas, as caturritas entoam um dialeto que rasga o silêncio, sacode o ar, atravessa distâncias. Espertas, camuflam-se entre as folhas, envolvem-me em uma brincadeira de esconde-esconde. No fundo do emaranhado natural, localizo um casal ocupado em se amar. Logo eles percebem minha curiosidade e passam também a me observar. Não falamos a mesma língua, mas os olhos se entendem. Algo nos une: a vida. Cada pedaço de existência vale muito, ansiamos sempre um pouco mais de tempo, não aceitamos quando um galho subitamente se parte e nossas asas paralisam de susto e medo. Queremos andar ao lado de nossos bandos, sem perder a singularidade. E a paciência. Agora o instante demora, apavora. Manteremos o equilíbrio. Esperaremos o que for preciso para, enfim, voltarmos a voar. 


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