Bifurcações

Bifurcações

Alina Souza

Parque Moinhos de Vento.

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Sob a grandeza das árvores, a vida respira. Renova-se. O ar fica mais leve, acolhe. As folhas filtram o impuro, e o tom incisivo do sol torna-se mais suave quando lhes perpassa. No solo, as sombras dançam conforme a direção da luz e o ritmo do vento. As raízes se estendem, entrelaçam-se, regidas pelo passar dos dias: alimentadas pelo tempo, alimentam a expansão. Os galhos querem abraçar o mundo. Bifurcam-se porque não gostam de serem únicos, não gostam de solidão. Adoram o múltiplo, o plural, a outra parte que nasce do próprio corpo. Às vezes não resistem à gravidade da idade e às intempéries climáticas. Cansam, desabam. Como todos nós. Mas jamais fazem por mal. As árvores se sentem completas quando vêem nascer, ao seu redor, o amor, o cuidado, a preocupação com as gerações futuras. Elas, que também são mães, mães de flores e frutos, buscam apresentar aos filhos da terra as gradações do verde, as influências da troca de estações, a irrevogável natureza. Do verde podem derivar tantas cores. Derivam também outros ramos e, de um singelo graveto, pode se desenvolver uma majestosa — e resistente — planta.


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