Digitalizados

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Alina Souza

Digitalizados.

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Na dimensão da realidade até podemos chorar, mas na rede social evidencia-se o contentamento. Certa vez, uma conhecida me contou que a vida ía mal. Fiquei intrigada, pois a vejo publicar imagens de viagens, festas, passeios com amigos. Ela sintetizou: “é preciso aparentar”. Já não sei se a lógica é viver e depois “postar” (palavra muito usada nos últimos tempos) ou posta-se para depois viver. Confuso isso. Vou a eventos com a missão de fotografá-los para o jornal. Tenho de adentrar na multidão munida de smartphones. A diferença é que eles estão no momento de lazer. E se desesperam por uma foto e/ou vídeo a fim de mostrar aos outros que estiveram no local. É a nova forma de desfrutar as experiências. Guardá-las na memória dos sistemas binários. Dedos obcecados procuram deter mínimas partículas de instantes fugazes. Aparelhos mediam relações. Ampliam o espaço. Desfazem limites. É tão fácil chegar até o outro. E, de tanta exposição, o que resta de nós? Tenho medo de olhar no espelho e encontrar apenas pixels. 

Texto e fotos: Alina Souza


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