Encontros

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Alina Souza

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As relações virtuais me levam a constantes devaneios. Diante dessa espiral que aumenta a busca do ideal e a impressão de vazio, eu volto a valorizar os encontros regidos pelo acaso. Volto a valorizar a vida que despenca na minha frente, imperfeita como tiver que ser — não mais a vida que tentamos manusear através das telas. Não quero mais ser refém dos algoritmos, tampouco ser um amontoado de pixels na esteira dos descartes e cancelamentos. Os relacionamentos por aplicativos me lembram a sensação de angústia da troca de canais através do controle remoto. No fundo, uma tentativa de controlar o que vai aparecer na nossa frente. No mundo natural (tenho uma vaga recordação dele), não escolhemos pessoas. Escolhemos caminhos. Dentro deles, esbarramos em pessoas que, dependendo da nossa abertura, poderão trazer novas energias à caminhada. Pessoas de carne e osso, cheias de defeitos, fraquezas, vulnerabilidades. Como nós mesmos. É difícil aceitar, eu sei. Fugimos dos espelhos, adentramos em aparelhos. Mas ainda dá tempo de voltar. De tocar intensas presenças. Dá tempo de desistir de intervir no fluxo dos acontecimentos. Passear. Sentir o frescor das surpresas, das coincidências.


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