Firmeza

Firmeza

Alina Souza

Menino brinca com pipa na Ilha das Flores.

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Naquele dia não havia vento, mas o menino acreditava no voo da pipa mesmo assim. Logo viria uma brisa e libertaria o brinquedo enfeitado com sacolas, tão leve que um sopro mais forte o levaria a percorrer o mundo. O menino precisava esperar, observar a direção da corrente de ar, sentir o tempo e a física, assumir-se autor do invento. As sombras se estendiam no solo, ele se via grande, quase adulto, não só dono da pipa mas também do seu caminho — talvez existisse um carretel para as outras coisas da vida, talvez tudo fosse uma questão de atenção, domínio e persistência. Quando a pipa encontrasse o céu, teria de manter a linha segura em suas mãos, os sonhos de alguma forma conectados à base. A liberdade se revelava como o infinito entre as nuvens, os anseios tremulavam alegres rumo às camadas mais altas. Mas a soltura também assustava. Se seu engenho escapasse do alcance das vistas e se desfizesse em pedaços? Diante do medo, puxou com força o cordel. A imensidão atraía, todavia, era preciso manter o controle.


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