Implícito

Implícito

Alina Souza

Mouvere Cia de Dança.

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Recordo quando me apresentaram o lápis “cor-de-pele”. Eu tinha um colega que não gostava de usá-lo e pintava as pessoas de variadas cores. Debochavam dele, não compreendiam. Por dentro, eu admirava sua originalidade. Meu amigo cresceu, tornou-se um adolescente muito inteligente. Nas aulas de artes, continuou pintando as pessoas de azul, verde e outras cores alegres. Só poderia ser um artista modernista, pensava eu. Agora percebo que nunca havia parado para pensar sobre o seu tom de pele: negro. Ou seja, suas pinturas eram manifestos. A negação de um preconceito implícito desde a pré-escola. Como deve ter sido difícil ouvir que havia uma tonalidade específica para preencher os seres humanos. Ele estava certo. Nós somos coloridos! Fortes. Vibrantes. E que lindas são as nuances do marrom, tão ligadas à terra, às raízes. Difíceis de ofuscar, resistentes. A foto acima foi feita em uma apresentação de dança há 4 anos, porém a expressividade desta moça vem à mente como se fosse ontem. Tal qual a história do menino que tanto idolatrei. Vencedores em uma sociedade que ainda não reconhece por completo suas autênticas matizes.

Texto e fotos: Alina Souza


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