Novo destino

Novo destino

Alina Souza

Centro de triagem da Vila Pinto, bairro Bom Jesus, Porto Alegre.

publicidade

Em um curto espaço de tempo, as lixeiras da minha residência tornam-se cheias. Abarrotadas. A produção de lixo disparou nos dias de pandemia, sobretudo a dos resíduos sólidos. Objetos da indústria passaram a ocupar um espaço maior dentro do cotidiano.

Abro a porta do apartamento e lembro que não estou sozinha. Os vizinhos transportam várias sacolas aos contêineres. A cidade inteira, o país, o mundo. A conta se multiplica. Quase não tem fim. Haverá lugar para tantas montanhas de detritos?

As imagens dos centros de reciclagem me devolvem esperança. Enquanto descarto plásticos, garrafas e papelões, torço para que tais substâncias sejam reaproveitadas da melhor forma possível e contribuam para sonhos, recomeços.

Com carinho, lavo, separo, preparo o material que poderá ter um novo destino. Penso nas mãos que irão tocá-lo: preocupo-me em não feri-las. Nos centros de triagem, pessoas perspicazes revertem a realidade do descarte. Lidam com embalagens, resquícios das coisas, pedaços de histórias e, em meio aos retalhos foscos, conseguem encontrar algo de intacto brilho.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895