Nuvens

Nuvens

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Esperamos claridade. Associamos felicidade à paisagem ensolarada. Pura idealização. Temos de estar prontos para tudo. A insistir nas rotas mesmo debaixo de mau tempo. Mais que o fim, importa o durante. Os 365 dias em conjunto. As reentrâncias do caminho. Nem sempre tal qual desejamos, mas belo e intenso por si só. A instabilidade convoca força. E o céu reflete, ecoa, ilumina através da escala de tons de prata. Nuvens desenham no infinito, quebram a monotonia, convidam a decifrar formas e a reinventar sentidos. Dinâmicas, densas, dançam a seu próprio ritmo. De repente, gotejam. Dissolvem-se. Viram temporal. Nesse instante, somos reais. Fluímos. Apesar das poças, da areia movediça, da maré cheia, do vento contra. A superação das dificuldades ressalta os contrastes, os realces, a nitidez. Aumenta o nosso alcance. Satisfaz. Missão cumprida. Fizemos a nossa parte. Não é diante dos quadros com cores primárias e cenas cômodas que a vida demora o seu olhar. Ela para, contempla e se orgulha frente às misturas, às nuances de imperfeição.
(Texto e fotos: Alina Souza)


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