Outras chances

Outras chances

Alina Souza

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De fato, ele me olhava. Eu, um ser esquisito, com uma máquina grudada ao olho feito uma extensão de mim mesma. Examinou-me em menos de um segundo e decidiu voar. Antes, tive que ser rápida para detê-lo na imagem e sentir-me menos solitária. O tempo todo temos de ser rápidos, não sei quem disse isto, mas faz sentido. Ele também estava agitado, inquieto, pleno em sua liberdade, ávido para não perdê-la. Mirava os arredores, hesitante quanto à direção a seguir, atento às mínimas formas de vida e aos fios soltos que poderiam ser bases de um novo ninho. E, de repente, eu gigante na sua frente, gigante com 1,5m, pensando na velocidade do instante, talvez até nem pensando, somente sentindo. Cheia de dúvidas, inclusive acerca da pressa que nos move. Ela realmente importa? Quantas vezes agi tarde demais? Quantas vezes me aproximei demasiado e assustei o motivo do entusiasmo? Vale a pena a afobação? Bem, ao considerar que nenhum momento se iguala ao outro, é possível esperar algo melhor, desprender-se dos farelos do passado. Recuperei a calma, imaginei outras oportunidades. E o passarinho amarelo voltou, desta vez ainda mais sábio.


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