Pedras

Pedras

Alina Souza

Morro das Furnas em Torres

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Torres. Tantos anos resguardados dentro destes rochedos. Sensíveis, ainda que pedras. Talhadas pelos ventos, pelos movimentos, pela inquietação nas camadas profundas do planeta. Aparentemente inférteis, secas, bruscas. No entanto: esculturas. Incontáveis formas, desenhos. Imaginação. Há o verde que as permeia, as flores que nascem nas reentrâncias, os respingos d’água que umedecem a superfície, infiltram-se e brilham como gotas no fundo dos olhos carregados de histórias. As rochas sentem. São belas, resistentes, bravas, preservam segredos do universo. E choram. Sim, o mundo é para os fortes, mas a força não impede a sensibilidade, tampouco oculta os pontos escorregadios, frágeis, tão comuns às grandiosas muralhas. A solidez se materializa através do tempo, da maturidade, do saber lidar com o medo e inevitáveis erosões. Os restos de trajetos sedimentam-se, criam identidade. Alguns dirão: apenas pedregulhos. Eu também diria. Mas a vida ensina que é justo na dureza que se abre caminho para esculpir.

Texto e fotos: Alina Souza


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