Pensamentos soltos e cítricos

Pensamentos soltos e cítricos

Alina Souza

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“Tudo vai dar certo”, disse meu namorado. Completei, de forma aleatória: “Tudo vai dar certo, nem que o certo seja errado”. Depois pensei sobre a frase jogada ao ar, sem cabimento, mas verdadeira, como quem aceita um caminho enviesado, com falhas, buracos, entretanto, natural e único. Diversos pensamentos me invadem enquanto espero passar os tempos difíceis. Nessa espera tenho a oportunidade de me despir da culpa, cobranças, certezas e, de súbito, esqueço do que estava esperando. Melhor assim, pois não há concreto para me escorar. O calendário mostra apenas números tabelados. Já o comprimento dos cabelos prova que os dias, de fato, passaram. O tempo de colheita de algumas frutas também. Uma vez liguei para o pai e ele lamentou que não pude buscar as muitas bergamotas do seu quintal. “Judiaria”, pronunciou. Liguei para a mãe, moradora de outra cidade, e ela contou que meu irmão trouxe caixas de bergamotas da casa da namorada: “você iria gostar.” Estes coincidentes diálogos acertaram em cheio uma parte intensa do meu ser. Permanecem agudos, delicados, mesmo quando todo som da rua adentra grave e perturbador.


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