Pouco a pouco

Pouco a pouco

Alina Souza

Ao fundo, Porto Alegre.

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O sucesso de ponderar o ego, o sossego de querer menos. Virar as costas para os excessos, pescar lucidez. Não um cardume, apenas algo que perdure e aprume um dia de cada vez. A poesia só cabe no território da humildade. Não há espaço para os versos (tampouco para o sol) no universo de quem quer ser o melhor. Donos da vida sob medida dentro de caixas de concreto lutam pelo título de “corretos”, desconfiam das coisas simples e vastas, procuram utilidades imediatas. Não gostam do longo prazo, estranham a arte construída nos acasos. Por que uma cena banal merece fotografia? O que dirão de uma pescaria? Serão favoráveis somente se os peixes forem fáceis? Ao cair da tarde, se não houver resultados no balde, a experiência terá sido em vão, um disparate? Tal viés carrega desespero e culpa, como se o ato de viver estivesse restrito aos acertos, erros e multas. Já a escolha de deixar-se existir pouco a pouco e ver para além da bolha de ganância e sufoco traz de novo o tempo para perto de si. Tanto faz se as mãos voltarem vazias ou cheias de lambaris. O agora não pede nada em troca. Apenas convoca.


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