Retomada

Retomada

Relógio do Mercado Público de Porto Alegre.

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Tempo, ora bate à porta, pede licença; ora invade, faz alarde, anda depressa, não quer conversa. Peço para que espere um pouco, mas ele não escuta, está concentrado em manter o compasso dos ponteiros do relógio. Aliás, não é só ele. Estamos todos ocupados, por vezes preocupados. Atravessamos as ruas respondendo mensagens nos celulares, tentamos atalhar caminhos, mal observamos as cores do céu, os detalhes das ruas. Nesse ritmo de urgência, as esperas parecem demorar tanto. Aguardar a chegada do ônibus, o descongestionamento do trânsito, o pensamento solto, o descanso. Sono breve e pesado, interrompido pela estridência do despertador, a rotina do recomeço. As horas passam em minutos e eu me pergunto se é possível retomar o que escapou dos sentidos. Reivindico, protesto, nego-me a viver na superfície. Quero morar nos instantes, refrear a pressa, remexer na caixa de sentimentos, permitir-me às surpresas. Se o tempo não para diante de mim, eu paro diante dele e lhe digo: Não irei de olhos fechados, o corpo pode até correr, mas a alma há de ter um suspiro.

Texto e fotos: Alina Souza


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