Salto

Salto

Alina Souza

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Inspiração profunda. Na fração do segundo, o salto. A vida suspensa no ar, prestes a encontrar a liberdade do oceano, vasta e intensa, porém presa à correnteza disfarçada de remanso. Pensamentos hesitantes interrompidos pelo ímpeto de aventura. A claridade convida a enfrentar as ondas. A vontade inunda, refresca, desperta coragem. Chegada à margem, é preciso tomar o rumo das escolhas incisivas, pois a demora oxida o encanto. Procurar o caminho que lhe traga paz, mesmo que pareça insano. Afogar as demasiadas expectativas, permitir-se às tentativas e erros, recorrer menos ao desespero, tornar o interior mais leve. Enquanto a ponta dos pés se solta da perigosa certeza das rochas, a mente busca a fluidez de deixar-se à mercê do imensurável. Tudo passa veloz feito um pulo sobre o medo, em breve despedaçado pelo impacto do vento. O agora é um milésimo de tempo; o movimento, uma junção de instantes congelados. Basta um passo à frente para que o antes se desprenda, vire respingo que logo evapora ou gota da memória que em algum recanto se acomoda silenciosamente. 


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