Bomba em Atlanta, fato mais do que previsível

Bomba em Atlanta, fato mais do que previsível

A história verdadeira de Richard Jewel virou filme de Clint Eastwood.

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A história verdadeira de Richard Jewell, um segurança que virou um dos principais suspeitos do ataque nos Jogos de Atlanta, em 1996, virou filme dirigido pelo excelente Clint Eastwood. Jewell na realidade foi decisivo para salvar vidas. Ele avisou da existência de uma bomba. Trata-se de história real de um herói transformado em vilão para a opinião pública.
Cobri os Jogos de Atlanta. Na noite do ataque terrorista estava hospitalizado. Mesmo assim, continuava escrevendo para a Folha da Tarde. As tópicos que seguem estão relacionados com esta Olimpíada, uma das mais conturbadas dentre aqueles em que trabalhei. Alguns são trechos retirados de colunas enviadas do hospital.
ATERRADOR
“Não se espante tanto com a explosão de uma bomba dentro de Atlanta. Há um dado mais aterrador: 14 já foram desativadas. Olimpíada é a festa de gala dos terroristas. Clinton anda uma fera. O FBI que descubra o terrorista ou os terroristas. Há um telefonema gravado. Alguém ligou para o 911 avisando da bomba 18 minutos antes da explosão. A polícia já havia visto o pacote, mas não sabia o que continha. Viu o pacote e retirou 200 pessoas do local tentando evitar o pânico.”
IRRESPONSÁVEIS
“A tal da área olímpica foi uma das exigências dos patrocinadores. O FBI não queria nem o COI. É uma novidade em Jogos. Eu passo por ali todos os dias. Passava, pois sigo nos hospital. Tomava o metrô na estação A Center, ia até a Five Points e fazia uma baldeação até a W1. Sempre com um sacolão. Desembarcam quase um milhão de pessoas por dia ali. Nunca me revistaram.”
AVISO
“Escrevi dias atrás que era uma irresponsabilidade concentrar quase toda a movimentação da Olimpíada numa área entre três e quatro quilômetros, o centro nervoso de Atlanta. Há rigor da segurança nas entradas dos ginásios, na Vila Olímpica e nos centros de imprensa. Porém, se eu quiser desembarcar hoje mesmo com uma bomba na área onde ocorreu a tragédia de ontem, posso fazê-lo sem problema algum.”
REPERCUSSÃO
“Estou no Georgia Baptist Hospital, onde trato uma suposta infecção. Suposta porque os médicos ainda não têm um diagnóstico definitivo. Aqui a madrugada foi terrível: 51 vítimas da bomba foram atendidas neste hospital. Dez ainda permanecem aqui. As enfermeiras e os médicos com quem eu falo não acreditam que isso possa ter acontecido nos Estados Unidos.
MANCHA
Mas este não foi o único fato a manchar os Jogos de Atlanta. Dois dias antes de começar a Olimpíada, explodiu um avião Boeing 747-100 da TWA, perto de Nova Iorque, matando 230 pessoas. Foi admitida a possibilidade de ter ocorrido um atentado terrorista.
HOSPITALIZAÇÃO
Quinta-feira, 26 de julho de 1996. Estou no metrô de Atlanta me dirigindo ao Centro de Imprensa para mais um dia de cobertura dos Jogos Olímpicos. Assim, sem mais nem menos, tenho a impressão de ter rompido tíbia e perônio, tamanha a dor na perna. Sinto calafrios. Mesmo assim, trabalho. À noite, não podendo resistir à dor, sou levado por Marsha Peterson, nossa querida guia norte-americana, ao hospital Georgia Baptist. O doutor Melton exige minha internação. Justifico ter que seguir minha cobertura. No dia seguinte, retornaria. Para ficar.
Retornaria, levado pelo filho do doutor Eduardo de Rose, porque me garantem ser o Georgia Baptist o hospital da família olímpica, ou seja, dos que possuem a credencial oficial. A enfermeira-chefe Zoila Calas confirma. Fico no térreo, numa cama destas com rodinhas. Aplicam  uma agulha em cada braço. 
Em menos de 5min, alguém retira as agulhas e sai em disparada pelo corredor gritando ’uma bomba, uma bomba’. Entra com minha cama no elevador e eu, desesperado, mando que ele saia do hospital. Se tem uma bomba ali, o melhor lugar é lá fora. Ele me explica que havia explodido uma bomba no Centennial Park e que 57 das mais de cem vítimas estavam sendo conduzidas para o Georgia Baptist.
Sou instalado no quinto andar, num quarto todo envidraçado. Ali vejo a movimentação dos helicópteros e sou informado pelos enfermeiros do estado das vítimas. Entro no ar na Rádio Guaíba, onde falo das 2h até as 7h. Ficaria hospitalizado cinco dias.
CELULITE
Do Google: “A celulite infecciosa, também conhecida como celulite bacteriana, é causada pelo ataque de bactérias que penetram na pele do paciente através de um corte, ferida, úlcera, bolha ou até por uma micose nos pés...” Foi isto que deixou hospitalizado. O tratamento durou seis meses. Com pequenas sequelas.


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