Aécio, de rei de Minas a réu do Brasil

Aécio, de rei de Minas a réu do Brasil

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Aécio, o réu

 

      Em 2014, Aécio Neves era o candidato das “pessoas de bem”. O PMDB gaúcho traiu o seu presidente nacional, o nebuloso Michel Temer, hoje rotulado pelo MP de "líder de organização criminosa", e foi parte com o mineirinho, parte com Marina Silva. Aécio era tudo de bom: dinâmico, bonito, neto de Tancredo, liberal, moderno, bem vestido, viajado, rico, bem casado, aberto para o futuro, falante de um português aceitável, jovem, experiente, confiável, inteligente, branco. Faltavam adjetivos para descrever tantas qualidades. Quatro anos depois, Aécio Neves é réu no STF por corrupção passiva.

Aqueles que o apoiaram com tanto entusiasmo só encontram como justificava aquele mesmo bordão surrado que ironizam nos adversários: “A gente não sabia”. As denúncias contra Aécio, no caso, por exemplo, de Furnas, são velhas. Ninguém queria saber. Aécio passou da condição de quase eleito à condição de candidato em busca de um foro privilegiado preventivo. Ao tornar-se réu no STF ele passou a figurar ao lado de Romero Jucá, o senador da célebre frase sobre a necessidade de “estancar a sangria” provocada pela Lava Jato. Jucá dorme tranquilo. Investigações no STF tendem a se arrastar e a prescrever. Aécio sorriu e soltou o clichê: “Agora vou poder me defender”. Uau!

As provas gravadas contra Aécio fazem dele um réu indefensável. Mas isso não quer dizer que irá para a cadeia em breve. Talvez nem vá. O PSDB não quis jogar ao mar o seu “enfant terrible” apodrecido. Ninguém expulsa os seus mesmo que pregue a expulsão dos corruptos alheios. Cada partido tem os seus corruptos de estimação e zela por eles para que mantenham a língua travada. Aécio Neves é acusado de ter recebido indevidamente menos do que Geraldo Alckmin e José Serra. Alckmin ainda tenta se viabilizar como presidenciável baseado em qualidades bizarras: nunca levantar a voz, ser uma pessoa razoável, equilibrada, radicalmente ponderado e bege. Nas pesquisas, amarga um lugar discreto.

Será que o eleitor mineiro vai absolver Aécio, o réu por propina, com um cargo de deputado ou até de senador? Não duvido. Aécio era uma embalagem sob medida para enganar eleitores que se deixam embrulhar pelo marketing da aparência tão ao gosto das classes que se qualificam como de bem. Joaquim Barbosa assusta com seu temperamento autoritário. Ciro Gomes apavora com seu destempero. Jair Bolsonaro encanta um extremo. Lula tem a sua tribo. Manoela e Boulos afastam os que temem a juventude. Alckmin tenta ser o caminho do meio andando pela direita. Aécio sonhava com 2018. Via-se como o homem certo para o ano certo. Agora não passa de uma figurinha no álbum que não vai à Copa.

Aécio foi o blefe do século. Continua apostando na estupidez nacional. Afirma que foi ingênuo sem ter cometido qualquer ilegalidade. Dá pena. Pobre do mineirinho. Combinou receber secretamente do republicano Joesley Batista, por emissário executável antes de delação, o prestativo primo Fred, dois reles milhões de reais por empréstimo, que, sendo dinheiro legal, como ele jura com os dedinhos cruzados, poderia ter sido transferido pelo celular. Pobre Aécio, tanto passado, tanto futuro, nenhum presente. Salvo o de senador. A vida é dura: um gigante pode virar poeira em poucos anos.

Não se respeita mais nada. Muito menos uma biografia familiar.

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