A obsessão pela derrota e o triunfo americano

A obsessão pela derrota e o triunfo americano

publicidade

Passei 20 dias fora.

De longe, vi o Grêmio atolar-se e o Inter afundar-se.

Vi o governo Sartori enredar-se em contradições.

Vi as empresas de ônibus de Porto Alegre, que se recusam a participar de licitação e a colocar ar c0ndicionado em todas as suas carroças, ganharem um generoso aumento de tarifa e ainda reclamarem. Ameaçam não renovar a frota. Transporte público deveria ser gratuito. No futuro, será assim. Já existem cidades apostando nisso. As empresas reclamam das isenções de tarifa. O custo é transferido para os usuários. Está errado. Tem de tirar do lucro desses maganos que entregam pouco e cobram muito. Não existe empresário de ônibus pobre. Esse negócio não é de livre concorrência real. Essas empresas prestam prestam um serviço para o poder público com lucro pré-fixado e ajuda para comprar os ônibus.

É capitalismo da teta. Algo devem dar de troco?

De longe, vi continuar a discussão sobre a construção de um novo aeroporto.

Confesso que o nome me preocupa. Melhor, me cansa.

Aeroporto 20 de setembro? Por quê?

Chega de revolução farroupilha. Chega de derrota.

Por que não Aeroporto Lupicínio Rodrigues? Aeroporto Elis Regina? Aeroporto Teixeirinha? Aeroporto Gildo de Freitas? Aeroporto Paulo Roberto Falcão? Ou, especialmente, Aeroporto 3 de outubro?

Em 3 de outubro de 1930, o Rio Grande do Sul comandou a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e mudou o Brasil. Por que preferimos a derrota à vitória? Por que vivemos obcecados por essa derrota?

Na volta, vi o triunfo da cultura americana. Em São Paulo, embarcaram no avião 110 adolescentes de Caxias do Sul. Estavam radiantes, de olhos brilhando, embora cansados de emoções. De onde vinham?

Da Disney.

Jamais vi outro avião com 110 adolescentes indo ou vindo de qualquer outro lugar.

Nem um parque temático da revolução farroupilha conseguiria isso.

Pateta representa o triunfo da cultura americana.

Pateta sempre me pareceu o mais inteligente dos personagens disneycos.

Eu me identifico com ele.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895