Algumas definições eleitorais

Algumas definições eleitorais

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 O calendário eleitoral vem forçando as definições. Candidaturas estão postas. Henrique Meirelles concorre pelo mercado. Fala economês, tem o carisma de uma estátua e desperta paixões nos banqueiros. Ciro Gomes disputa a presidência pelo sonho de ser presidente. É tão bom de retórica que chega a atemorizar seus correligionários. Se não se controlar, destrói os outros e a si mesmo. Geraldo Alckmin participa da corrida pelo mercado, pelo sonho de ser presidente, por causa das trapalhadas de Aécio Neves e como opção para os que amam o bege. Em entrevista recente jurou que não existe esquema de corrupção do PSDB. O tal Paulo Preto, denunciado como operador tucano, fez carreira solo.

Álvaro Dias é o candidato da Lava Jato.

Quer Sérgio Moro como ministro da Justiça.

Melhor seria, nessa perspectiva, indicá-lo para o STF, onde poderia, quem sabe, reescrever a Constituição.

Dias está convencido de que o principal problema do Brasil é a corrupção, não a desigualdade.

João Amoedo, candidato do Novo, representa o velho neoliberalismo.

Marina Silva é candidata de algo difuso, indefinido, uma rede de preocupações pouco claras. Já representou a ecologia. Desta vez, oscila entre o combate à corrupção e as boas intenções não suficientemente discriminadas. Não fossem as ambições biográficas, ela e Álvaro Dias poderiam estar juntos. Atuam no mesmo registro musical.

Lula é candidato de quem? Pela lei da Ficha Limpa, de ninguém. Mesmo que saia da prisão, dificilmente terá seu registro deferido pelo TSE. No imaginário petista, porém, Lula é o candidato do povo, o que as pesquisas confirmariam. Na percepção dos seus criativos críticos, Lula é candidato de Lula. Cem em cem críticos de Lula, fazendo-se de neutros, garantem que ele se faz de vítima. É uma boa hipótese. Já foi feita a demonstração? Em todo caso, Lula divide o PT. Se Lula, Ciro, Manoela e Boulos encarnam o mesmo campo político, por que não estarão juntos já no primeiro turno? Política é a arte da paciência. Preso, Lula está mais apto a praticar essa arte do que qualquer outro.

Manuela D’Ávila estava com o foco certo: a desigualdade, com viés “racial” e de gênero, é o problema maior a ser enfrentado no Brasil. De quem ela era candidata? Possivelmente de suas utopias. Como vice de Lula, ficará mais perto do que imagina. E Jair Bolsonaro? O capitão é o candidato do senso comum. Num quadro de complexidade, marcado por questões de difícil solução, ele empolga seu público pela pobreza de raciocínio. Há insegurança? Arma todo mundo. A democracia tem a sua dose de caos? Voltemos à ditadura. Perdemos certas referências? Que a vida seja tradicional: casamento é homem com mulher. Homem ganha mais do que mulher? Que fazer? O mercado decide.

Bolsonaro conforta o cidadão médio educado na homofobia, no racismo, no autoritarismo, no sexismo, na xenofobia e na ideia de que as desigualdades sociais são naturais. Num mundo em acelerada mudança, ele se apresenta como o candidato dos “bons velhos tempos” em que tudo era simples, claro e eficiente: família tinha chefe, comunista ia para a cadeia, homossexualismo era doença e autoridade usava farda, dava ordens e punia quem não obedecia. Já era.

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