Angústia e felicidade
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Corinthians com a do Palmeiras. Bola para frente. Na verdade, eu me convenci de que a questão mais importante de uma filosofia do século XXI é a felicidade. Um retorno às origens gregas. Podemos ou não ser felizes? O que é a felicidade? Como alcançá-la? O que disseram os grandes pensadores sobre o tema? Dezembro é um mês preocupante. Muitas pessoas se angustiam mais. Nos países frios, a luz natural diminui, a depressão aumenta, a melancolia corre solta, a pressão das festas adoece. Entre nós, mesmo com muito sol, muita gente sofre.
O Natal é festa de família. O Ano Novo é festa com amigos. Para muitos, dois problemas. A família diluiu-se ou não supera as diferenças entre os seus membros. Faltam amigos. O tempo passou. O isolamento instalou-se. Por trás de tudo, muitas vezes, está a estranha sensação de que o fim de um ano de calendário representa um ciclo existencial e que não se realizou o desejado. O medo da solidão, a sensação de fracasso, as conveniências sociais, enfim, tudo pode funcionar como uma areia movediça. A felicidade é uma palavra, um conceito subjetivo, uma utopia, um ideal. Dificilmente escapa de algo como estar bem consigo mesmo, sentir-se sereno, querer seguir em frente, gostar do que se é e do que se faz.
Angústia e felicidade duelam dentro de nós a cada dia. A angústia pode ter a ver com desequilíbrios químicos em nosso cérebro ou com fraturas existenciais: o tempo que passa, a vida que segue, tudo o que fica para trás, aquilo que ainda será possível fazer, expectativas, cobranças, projetos, amores, sonhos, ameaças, temores. Teremos emprego amanhã? O futuro está garantido? Nossos filhos e netos ficarão bem? Ainda podemos ser aquilo que sempre quisemos? O franco-argelino Albert Camus, prêmio Nobel da literatura de 1957, pode um dia dizer: “Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro”.
É que todos gostaríamos de dizer, imagino. Não se trata de uma ideia infantil de felicidade. Ser feliz em permanência. Quem não gostaria? Mesmo assim, por felicidade se entende, a partir de certo momento e de alguma estrada, um estado de satisfação mais duradouro, não de êxtase, não de adrenalina a mil, mas de tranquilidade e contentamento consigo mesmo. A felicidade, em certa época da vida, para alguns, é fazer o gol, correr para o abraço e acumular troféus. Em outros momentos, a felicidade é jogar, estar no jogo, participar. Felicidade é bem-estar, estar bem.
A filosofia, por muito tempo, considerou subjetivo demais ou até de autoajuda esse assunto.
Preferiu dedicar-se a obscuras questões de lógica.
Queria ser uma espécie de matemática argumentativa. A questão da felicidade, porém, é real, urgente e incontornável. Gera ansiedade, desamparo, desespero, impotência, fragilidade e perplexidade. Se não podemos falar da felicidade, parafraseando um filósofo austero ainda na moda, certo Wittgenstein, melhor calar. O silêncio, contudo, fala muito.