Ano de ódios no Brasil

Ano de ódios no Brasil

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Está chegando ao fim o ano de 2015. Já vai tarde. Não deixará muitas boas lembranças coletivas. Tomara que cada leitor tenha boas lembranças individuais. Foi o ano, mais um, no plano internacional, do terrorismo. Começou com o ataque ao jornal satírico francês Charlie Hebdo e terminou com os atentados a vários locais em Paris, entre os quais a casa noturna Bataclan. Um ano de banhos de sangue. O conflito israelo-palestino fez mais um aniversário. A ascensão do islamismo radical inundou as manchetes de jornal. Um ano doloroso.

No Brasil, petistas e antipetistas odiaram-se como nunca. A fase PMDB da Operação Lava-Jato, deflagrada anteontem, mostrou que continuamos um país de contrastes antagônicos e complementares: nunca se roubou tanto, nunca se investigou tanto. Ano do impeachment X golpe. Ano de simplificações, radicalizações e confrontos ideológicos. Ano de muita corrupção e de percepção seletiva do que deve ser denunciado. Ano da ruptura da barragem da Vale em Mariana. Ano da lama matando pessoas, destruindo um rio, chegando ao mar. Ano amargo de asfixia do rio Doce. Ano da triste figura de Eduardo Cunha dando as cartas e jogando de mão. Ano da política mais rasteira. Ano de manobras, puxadas de tapete e jogos de cena.

Ano das operações Lava-Jato e Zelotes. A primeira tem ajudado a mostrar a sujeira escondida debaixo de tapetes públicos pisados por canibais da nação. A segunda, enquanto só envolvia empresários sonegadores de impostos, permaneceu em notas de rodapé. Ano de cassação do mandato de um deputado no Rio Grande do Sul. Ano de aprofundamento da descrença nos políticos. Ano da condenação justa de corruptos petistas e de outros partidos. Parecia ser mais um ano de engavetamento do processo do mensalão tucano, mas, ontem, saiu a condenação de Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais: 20 anos de prisão. Ele ainda pode recorrer. Ano da queda do padrão Fifa, transformado em padrão Fifa de roubalheira. Ano de pavor para os cartolas da CBF, obrigados a refugiar-se no Brasil ou a viver, como José Maria Marin, em prisão domiciliar no seu “modesto” apê na Quinta Avenida em Nova York.

Ano que termina com Donaldo Trump, político republicano de extrema-direita, ainda bem colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Trump é conhecido pela fortuna, pela grosseria, pelo reacionarismo e pelas declarações infelizes. Quer impedir a entrada de muçulmanos no seu país por tempo indeterminado. Ano, mais um, do preconceito. No Brasil, ano do racismo contra negras famosas e negros anônimos. Ano da explosão do ódio nas redes sociais. Ano de violência física, verbal e simbólica.

Estou colocando a carreta na frente dos bois. Antes do fim do ano tem o Natal. Qual o meu pedido para o bom velhinho: um ano de honestidade? É o que desejo. Será que Papai Noel tem saco para tanto? Quem sabe, num esforço desmesurado, consiga trazer um 2016 bem melhor. Um ano sem tanto ódio, sem tanta baixaria e sem Eduardo Cunha, o investigado que passou a fazer as regras do seu julgamento. Atenção, o ano nefasto ainda não terminou. Todo cuidado é pouco. Eduardo Cunha pode tirar do regimento interno alguma carta secreta e fazer do Papai Noel um aliado. Michel Temer pode mandar alguma carta de desabafo ao Bom Velhinho e, por trás, trabalhar para colocar um representante do PMDB no lugar dele. Nunca se sabe.

 

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