Bar do Omar

Bar do Omar

Humor carioca em forma de marketing e política

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Paris e Rio de Janeiro são cidades muitos especiais. Paris destaca-se pelo que o homem fez. Rio de Janeiro é um maravilhoso desenho da natureza. Há coisas que só parecem possíveis em cidades com esse tipo de personalidade. No Rio, o Bar do Omar está fazendo sucesso. Como pode? Fica na rua Sara, no Morro do Pinto, próximo da região portuária. Em termos diretos, é um bar na subida de uma favela. Tem mesas na rua e uma parte especial: a laje com vista panorâmica. É um uber atrás do outro largando turistas para conhecer o local. Não faltam cariocas por lá tampouco.

É só isso? Não. Tem um marketing muito singular: bar de resistência. Assumidamente de esquerda. Sob medida para um papo sobre política. A cerveja que mais vende é a Lula Livre. Cerveja Vidas Secas. Nas paredes, placas em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco e a Lula. O cardápio não deixa por menos. É um Power Point no estilo daquele apresentado pelo procurador Deltan Dallagnol para colocar Lula como o centro de tudo. O bolinho de bacalhau ocupa o meio do dispositivo carioca. Tudo passa por ele. Teoria do domínio do fato e do gosto. Omar, o dono, não se furta a gravar vídeos de apoio a bares com a mesma proposta dispersados pelo Brasil.

Não falta humor na ideia. De quebra, o visitante pode dizer que subiu e desceu morro carioca à noite sem dar nada. Na boa. Motorista de táxi já avisa na largada: “Talvez eu não consiga subir até lá”. Instalada a dúvida na cabeça do passageiro, vem o alívio: “Por causa do engarrafamento”. O bar do Omar é o novo point. Power Point. Ponto empoderado. Tem sabor local, cheiro da terra, malandragem, cultura de morro, paquera e musicalidade. Além disso, o empreendimento dinamiza a economia do bairro. No final da tarde, o entorno é tomado por outras iniciativas empregadoras, como a barraca do churrasquinho. Em cada mesa, pau no Bolsonaro, debates jurídicos, teses:

– O STF não vai amarelar desta vez, pô!

      Tem gringo no bar. Como não teria? É roteiro turístico. Turismo político. Fala-se inglês, francês, carioquês. Ir ao Rio de Janeiro e não conhecer o Bar do Omar é como ir a Curitiba e não conhecer a sede da Polícia Federal. As camisetas dos frequentadores são outdoors: “Enquanto houver burguesia não haverá poesia”. Mensagens assim. Até chegar ao Bar do Omar, vindo da Zona Sul, o turista pode deliciar-se passando pela frente do Palácio Guanabara e pelo sambódromo. Quando se aproxima, tem o morro da Providência de um lado, o Morro do Pinto do outro, bairro de Santo Cristo. Região tradicional, berço de portugueses, com efervescência e intensidade.

      Em quantas cidades se consegue transformar em boteco muito boteco de zona degradada em atração internacional? Omar é um case a ser estudado em cursos de marketing e de gestão. Quem estiver duvidando da idoneidade deste cronista, coloque no google para conferir. Da próxima vez, caro leitor, não perca o happy hour no Bar do Omar. Salvo se o esquerdismo provocar urticária. Neste caso, há opções melhores na Barra da Tijuca. É isso aí.


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