Conforto para tempos sombrios
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Um país sul-americano de péssima fama, a Colômbia, deu um exemplo ao mundo de solidariedade, de civilidade, de sensibilidade e de humanidade. Para tudo pode haver um tempo. Agora, com os mortos enterrados, eu penso melhor nessa aula de humanismo dada pelos colombianos. Foi preciso que a morte irrompesse de maneira brutal para que o jogo voltasse a ser apenas um jogo. Enquanto isso, no Brasil, os poderes afundam o país no casuísmo. A aposentadoria vai se tornar uma miragem para uma boa parte da população. Tudo parece a deriva. Em meio à estupefação, eu me protejo com as palavras do poema de T.S. Eliot. Uma oração. Ou um desabafo.
“Em meu princípio está meu fim. Umas após outras
As casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,
Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
Irrompe um campo aberto, uma usina ou um atalho.
Velhas pedras para novas construções, velhos lenhos para
novas chamas,
Velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre a terra
semeadas,
Terra agora feita carne, pele e fezes,
Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.
As casas vivem e morrem: há um tempo para construir
E um tempo para viver e conceber
E um tempo para o vento estilhaçar as trêmulas vidraças
E sacudir o lambril onde vagueia o rato silvestre
E sacudir as tapeçarias em farrapos tecidas com a silente
legenda.
Em meu princípio está meu fim. Agora a luz declina
Sobre o campo aberto, abandonado, a recôndita vereda
Cerrada pelos ramos, sombra na tarde,
Ali, onde te encolhes junto ao barranco enquanto passa um
caminhão,
E a recôndita vereda insiste
Rumo à aldeia, ao aquecimento elétrico
Hipnotizada. Na tépida neblina, a luz abafada
É absorvida, irrefratada, pela rocha grisalha.
As dálias dormem no silêncio vazio.”