Considerações sobre a propaganda política no RS

Considerações sobre a propaganda política no RS

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Tem eleitor tucano querendo que eu fale mais de poesia. Tem eleitor petista pedindo que eu trate de futebol. Tem eleitor peemedebista sugerindo que eu me interesse mais pela França. São excelentes sugestões, mas o mais excitante no momento é a campanha eleitoral. Por exemplo, os primeiros vídeos de propaganda de Tarso Genro e José Ivo Sartori no relançamento da disputa na televisão neste segundo turno. A campanha de Sartori, baseada na simplicidade e na autenticidade, apresenta uma mensagem da mãe do candidato:

– Zé, aqui é a tua mãe que tá falando, faz como eu te ensinei, não brigar, não falar mentira, não criticar os outros...

Na sequência, Zé aparece e, sem citar nomes, desobedece à ordem da mãe: detona os que, no seu entender, “preferem olhar no retrovisor e falar das eleições de 2010 ou de 2006 e pasmem até de 2002”. Zé chama o opositor para a briga, mas sem dizer que quer brigar. Afirma que pretende resolver os problemas do Rio Grande olhando para a frente, mas não os enumera nem diz como. Não é o momento. Boa parte dos dez minutos dessa peça publicitária é gasta mostrando o homem em família, sendo até criticado pelos filhos por não saber se vestir sozinho, sem ajuda da mulher. Depois, vem o político em cena, que confessa ter “soltado uma lágrima” de emoção pelo apoio do povo gaúcho. A música de fundo pede que a “vida só melhore”. Nenhuma proposta. O marketing de Sartori trabalha para situá-lo fora da dicotomia esquerda e direita, flutuando num ar puro sem ideologias.

O programa de Sartori, veiculado no sábado, é embalado por uma musiquinha que diz “acima de qualquer sigla, acima de qualquer briga” (..) “Acima da esquerda, acima da direita, acima de qualquer lado”. Pode isso, Arnaldo? É verdade isso? A propaganda de Tarso Genro, embora o situe em família, obriga-se a ser mais concreta. O candidato, no papel de governador, responde a perguntas espinhosas. Vai seguir implantando as escolas de tempo integral no Estado? Resposta óbvia: “Vou”. De maneira gradativa. A pergunta seguinte é mais complicada: é possível pagar o piso integral do magistério sem mexer no plano de carreira? “É possível se tivermos a colaboração do pré-sala. Está na minha agenda pedir um adiantamento dos recursos do pré-sal para que a gente possa aí cumprir o pagamento do piso com o plano de carreira. Eu tenho o compromisso de não mexer no plano de carreira. Por isso, estamos alcançando o piso aquele corrigido pelo INPC”. Incoerência? Justificativa tardia para uma quebra de promessa?

Longe de mim querer julgar quem tem razão ou quem é mais ou menos verdadeiro nessas obras de sedução empacotadas sob medida para mexer com as emoções de eleitores. Sartori aciona todos os pontos sensíveis (clichês) dos gaúchos, do gringo que faz à alma farrapa. Tarso mobiliza suas realizações como governador e ministro. A análise de discurso é uma metodologia muita usada nas pesquisas em comunicação. Como resistir à tentação? Meu partido é a verdade.

 

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