Crime de irresponsabilidade

Crime de irresponsabilidade

Presidente brinca com a vida dos brasileiros

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      Jair Bolsonaro nunca teve a dimensão do cargo que ocupa. Não imagina que a principal função de um presidente da República é ser mediador. Cabe-lhe mediar os conflitos sociais e conduzir a nação para dias e soluções melhores. Dar exemplo é uma das suas tarefas mais relevantes. Dar exemplo de ponderação, racionalidade, equilíbrio, grandeza, desprendimento, coragem, sabedoria, justiça e muito mais. No domingo, Bolsonaro fez o contrário disso tudo. Foi ao encontro de manifestantes, que pregavam fechamento do Congresso Nacional, apertou mãos, tirou fotos de rosto quase colado, tocou, pegou celulares, lixou-se para a pandemia de coronavírus e para as recomendações da OMS.

      No seu pior estilo, encarnou o que parece ser a sua marca: o senso comum, o cara no bar vociferando “esse vírus não dá nada”. Interessado exclusivamente no seu umbigo ideológico, Bolsonaro foi ao encontro dos seus apoiadores mais fanáticos, aqueles que desdenham de um vírus que põe o mundo de joelhos. Primeiro Bolsonaro acusou uma jornalista de mentir sobre o seu apoio ao movimento com nítidos contornos antidemocráticos. Depois, publicou vídeo de convocação às manifestações. Mais tarde, por causa do coronavírus, aconselhou que os organizadores repensassem. Por fim, passou o domingo incentivando os atos. No auge do seu entusiasmo, correu para o abraço e comemorou.

      Os cartazes dos manifestantes pediam AI-5, cassação de ministros do STF, fechamento do Congresso Nacional e regime militar. Mas Jair Bolsonaro declarou que não eram contra qualquer instituição. Nestes dias assustadores que vivemos um presidente da República sério e responsável só tem duas coisas a dizer aos cidadãos do seu país:

– Lavem as mãos. Fiquem em casa o mais que puderem.

      Bolsonaro, em fez de dizer isso, joga-se no bolo, favorece as aglomerações, só pensa nos seus interesses políticos. O vírus que se dane! Há momentos em que o jogo político precisa ser deixado de lado em nome de um grande interesse comum. O capitão não vê isso, não dá trégua, não descansa. Pensa em 2022. Foi um final de semana bizarro. O mundo preocupado, países fechando fronteiras, cidades desertas, escolas cancelando aulas, famílias estocando alimentos, hospitais em preparação para a guerra, médicos inquietos, Jair Bolsonaro na rua com a sua claque em verde e amarelo.

As manifestações foram raquíticas. Talvez isso lhe sirva de argumento para negar que estimulou aglomerações. Mesmo com assessores infectados, tendo corrido sério risco de contrair o vírus, Bolsonaro ainda não se deu conta da gravidade da situação. Até há pouco o coronavírus era para ele somente uma fantasia da mídia. A realidade não é uma dimensão com a qual mantenha contato diário. Quem vai lhe avisar que o momento é de ficar em casa, mesmo que seja no seu palácio?

No seu delírio, Jair Bolsonaro quer fazer festinha de aniversário com abraço e beijo. Já está fritando o ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, por este ter começado a aparecer como um técnico sensato e racional em meio a uma turba de ensadecidos ideologizados até a medula. Bolsonaro quer que Mandetta faça discurso político, não técnico. Continua achando que há exagero em relação ao coronavírus e que o ministro ajuda na disseminação da histeria. Janaína Paschoal, a mulher que pediu o impeachment de Dilma, diz estar arrependida do seu voto em Bolsonaro e pede que ele se afaste. Pura ilusão. O presidente vive numa realidade paralela. Na inauguração da CNN Brasil compareceram 1300 pessoas, inclusive o presidente da Câmara dos Deputados? Sim. Grande erro. Nada que absolva Jair Bolsonaro de ser o primeiro a ter de dar exemplo. As suas falas devem ser simples. Ele consegue:

– Lavem as mãos. Fiquem em casa.

 

 


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