Cunha junto ao cadafalso

Cunha junto ao cadafalso

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Eduardo Cunha pode ser guilhotinado hoje.

Será um caso único na história universal.

Ele é adorado pelos que terão de executá-lo.

Michel Temer, guindado à presidência da República por um golpe de novo tipo, deve tudo a Cunha.

O PMDB, incapaz de ganhar eleição, tanto que nem concorre, gostaria de erguer estátuas a Eduardo.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados é o herói do golpe chamado de impeachment, o homem que permitiu a realização dos sonhos da direita brasileira: expulsar o PT do poder. A corrupção de Cunha não assusta seus amigos.

Normal.

Se a votação fosse secreta, Cunha seria salvo.

A saída para os amigos de Cunha seria não comparecer à sessão. O problema é que eles temem os eleitores.

Cunha, em entrevista para a Folha de S. Paulo, inventou uma narrativa bizarra para embelezar sua degola: "Os defensores do governo corrupto do PT querem a minha cabeça para ter o troféu. O discurso do golpe precisa da minha cassação, vai dar munição para eles dizerem que o processo é tão deturpado que quem autorizou a abertura do impeachment foi cassado. Para eles, essa é uma luta de vida ou morte. Sou o principal inimigo deles, o algoz. Existe um espírito de vingança e eles querem consumar na votação. Não tenha dúvida: a minha cassação vai representar o fortalecimento do discurso do golpe."

Mas é o contrário. Os defensores do impeachment precisam cassá-lo para fazer de conta que são inimigos da corrupção e que não toleram qualquer deslize ético. Seria a prova de que não foi golpe.

Cunha é a mais perfeita imagem do político médio brasileiro.

Se não calculasse tudo, ele poderia dizer na hora de cair: "E Temer, Jucá, Renan e os outros? Eles ficam?"

Se Cunha for cassado, seus algozes mandarão flores e chorarão por 30 segundos.

Depois, tratarão de rezar para não serem denunciados pelo velho amigo.

 

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