Da arte de ensinar e de aprender

Da arte de ensinar e de aprender

Professores mudam o mundo

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    O que significa ensinar? Neste dia dos professores, esses heróis do cotidiano, penso sobre isso. Sou professor há 30 anos, 26 deles na PUCRS. Houve um tempo em que ensinar era transmitir o conhecimento que o professor acumulava na formação e ao longo da vida a alunos que eram vistos como folhas em branco nas quais seriam inscritas as informações. As memórias artificiais eram poucas. A principal, a escrita. Livros sempre foram tecnologias de armazenamento e transmissão de dados. Nessa época, ter boa memória era muito importante. Confundia-se memória com inteligência. Quem sabia de cor a lista dos imperadores romanos, dos afluentes do Amazonas e tantas outras coisas assim passava de ano.
    Hoje temos uma memória artificial no bolso, que vai dar um salto com a tecnologia 5G. Decorar caiu no esquecimento. Platão (ou Sócrates, ou Teuth) temia a perda da memória com a escrita. Alguns ainda lamentam que a máquina de calcular tenha acabado com a aprendizagem da tabuada e de fazer contas mentalmente. A transmissão de saberes foi substituída pela construção e outras metodologias ditas ativas ou algo parecido. Discípulo de Edgar Morin, o centenário pensador da complexidade, tenho comigo que se ensina e aprende de muitas formas, inclusive pela fala e pela escuta, com histórias e palestras. Ensinar é algo que se renova. Cada aluna é diferente ainda que seja sobre um mesmo tópico ou conteúdo.
    Como sugeria o físico Paul Feyerabend, todos os métodos podem ser bons. Ensinar e aprender têm a ver com pluralismo. Professores se queixam que o aluno atual estaria infantilizado, esperando de cada aula um game. O lúdico impediria qualquer demanda de esforço. É meia verdade. Ser professor hoje, porém, é certamente mais difícil do que antes. O mestre precisa conquistar os seus alunos, não pode confundir autoridade com autoritarismo nem sair castigando os refratários. Criança, fui para trás da porta muitas vezes como castigo por discutir, contestar, falar demais. Cheguei a comandar, pelos sete anos de idade, uma grave contra o autoritarismo. Fomos para cima de uma bergamoteira na escola rural, de onde negociamos a descida. A proximidade da noite acelerou o desfecho. Ao botar o pé no chão, veio o castigo. Era parte dos procedimentos.
    Aprende-se de muitas formas: fazendo, lendo, refletindo, vendo filmes, séries, ouvindo música, escutando alguém falar, viajando, conversando. Todos os sentidos servem ao aprendizado, inclusive, obviamente, o ouvido. Na fala, o que conta, cada vez mais, é a capacidade de análise, sugestões de interpretação, compreensão singular. Professor também avalia, não necessariamente de maneira tradicional e simplificadora, mas sempre para saber se o aluno está ficando preparado para fazer aquilo que a sociedade dele vai esperar. As avalições podem ser criativas e abertas. A sociedade avalia o tempo inteiro. Não se pode, contudo, resumir a relação ensino-aprendizagem à devolução mecânica pelo aluno de informações. O professor aprende com seus alunos todos os dias. Mas também conhecer saber alguma coisa que os alunos ainda não saibam. Assim é a cada dia. Bravo, colegas, em frente. Meus agradecimentos a tantos bons e afetuosos alunos nesses anos todos.

 


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