Da soberba nas estratégias de campanha

Da soberba nas estratégias de campanha

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Um dos perigos em campanha eleitoral é a soberba, essa irmã da vaidade que não perde oportunidade de infiltrar-se na vida até mesmo dos considerados modestos. Marina Silva, em 2010, foi uma candidata disponível para entrevistas por toda parte. Parecia ser mil. Atendia todo mundo. Não se negava a quem quer que fosse. Em 2014, guindada, em certo momento, à condição de favorita nas pesquisas, virou difícil. Tornou-se altamente seletiva. Fechou-se em copas. Claro que a agenda ficou mais pesada. Mesmo assim, a mudança de atitude ficou visível. Terá pago também por isso, por essa súbita indisponibilidade?

Aécio Neves, que passou bem ao segundo turno, quando viu a sua candidatura descendo a ladeira, abriu-se a todos. O jornal Folha de S. Paulo chegou a destacar essa sua disponibilidade: “Para superar a redução do espaço no noticiário nacional, falava diariamente para rádios regionais. Chegou a reunir representantes de 83 jornais de bairro de São Paulo – o maior colégio eleitoral do país – para uma longa entrevista”. Eu mesmo tive direito à meia-hora com ele, para a Rádio Guaíba, em Porto Alegre. Na ocasião, embora nitidamente cansado, Aécio mostrou-se gentil, minucioso nas respostas e alegre.

Dilma Rousseff é outro capítulo. Presidente e candidata, sua agenda é, obviamente, babilônica. Para o Rio Grande do Sul, ela só encontrou tempo, em exclusividade, para um veículo. Ganha um doce quem adivinhar qual? E dois doces quem errar. Terá Dilma esquecido que o Rio Grande do Sul é Inter e Grêmio? Terá esquecido que falar para o Grêmio e não para o Inter, ou vice-versa, tem um significado muito especial? Terá esquecido que, em se tratando de comunicação, é ainda mais intrincado e diversificado? A assessoria de Dilma pratica um jogo delicioso e ardiloso. Garante que a entrevista será concedida, que a presidente já deu o seu acordo, mas jamais marca a data. Coisa de burocrata do centro do país que desconhece a gauchada.

Ana Amélia Lemos pavimentou o caminho para que Aécio Neves falasse para os veículos gaúchos. Em nosso caso, uma semana depois de um contato com ela a assessoria de Aécio já estava ligando para fixar o encontro. Beto Albuquerque não conseguiu realizar a mesma façanha. Nem para contato telefônico. Marina derretia, mas não se aproximava da imprensa. Os petistas mais notáveis, de Tarso Genro a Olívio Dutra, sem contar Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma, empenharam-se profundamente para tornar Dilma acessível a quem não trabalha nas afiliadas da Globo. Nem assim foi possível.

Em determinado momento da campanha, quando Marina surfava uma onda altamente favorável, Lula teria – segundo o jornal Folha de S. Paulo – sacudido a presidente Dilma: “Olha, a tia tem que ir para a rua, a tia tem que se movimentar!” A tia até que botou o bloco na rua, mas seletivamente. A soberba tem seu preço. Se houvesse adotado a estratégia de Aécio Neves talvez Dilma tivesse ganho no primeiro turno. Agora, que não se iludam os petistas, será parto de burro.

De todos os candidatos, Dilma foi a que mais dependeu do seu marqueteiro, o fazedor de mágicas João Santana. É curioso que o PT, pretensamente um partido de ideias e de ideologia, precise tanto dos artifícios da embalagem para ganhar. Sugestão para melhorar a imagem: não aparelhar tanto, fulminar a roubalheira e falar para todos.

 

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