Dante, o poeta

Dante, o poeta

Setecentos anos da morte do autor da Divina Comédia

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Dante

    Talvez o maior poeta de todos os tempos, Dante Alighieri nasceu em Florença, em 1265, e morreu em Ravena, em 13 ou 14 de setembro de 1321, há setecentos anos. Entrou antes para a eternidade com “A comédia”, que depois passou a ser conhecida como “Divina comédia”. Uma façanha literária descomunal. Ele saltou do latim para a língua vulgar, como se diz, fundando o italiano. O pesquisador Jean-Pierre Ferrini, autor de “Leituras de Dante”, escreveu: “Ainda enquanto ele vivia texto estava circulando, principalmente o Inferno. Foi lido muito rapidamente. Boccaccio, que comentou e editou também a obra de Dante, é quase contemporâneo, mas pouco antes dele Petrarca foi o leitor de Dante, e um pouco mais tarde surgem as ilustrações de Botticelli, para citar alguns exemplos”. Que leitores!
Ferrini diz mais: “Dante foi, portanto, lido imediatamente. E então, gradualmente, testemunhamos uma forma de eclipse, que está em parte, para colocar de forma muito esquemática, ligada ao Petrarquismo. Passamos a seguir mais o modelo Petrarca”. Mas Dante superou todos os eclipses. O escritor argentino Jorge Luís Borges, em “Ensaios dantescos”, cravou como quem enxergava longe: “A ideia de um texto capaz de múltiplas leituras é característica da Idade Média, essa Idade Média tão caluniada e complexa que nos deu a arquitetura gótica, as sagas da Islândia e a filosofia escolástica em que tudo é discutido. Que nos deu, sobretudo, a Comédia, que continuamos a ler e que continua a nos surpreender, que durará além de nossas vigílias e que será enriquecida por cada geração de leitores”.
Borges não dispensava o senso de humor para temperar suas sacadas eruditas: “Tenho a impressão de que Dante edificou o melhor livro produzido pela literatura para intercalar alguns encontros com a irrecuperável Beatriz”. O irônico italiano Umberto Eco brincava, em “Arte e beleza na estética medieval”, que Dante era pretensioso o suficiente para achar que a sua “Divina comédia” era uma continuação da Bíblia.
O pesquisador brasileiro Raphael Salomão Khede (UERJ) mostra Dante na parte e no todo com a precisão do especialista: ‘O canto se inicia de forma sarcástica com a invectiva contra Florença (cidade natal de Dante e da qual ele foi exilado em 1302), em contraste com o tom sério adotado pelo poeta nas invectivas contra outras cidades, como Pistoia (no canto XXV) ou Pisa (canto XXXIII)”. A pegada é virulenta: “Dando continuidade à narração de sua viagem através do Inferno, Dante, dirigindo-se diretamente à Florença, afirma ironicamente que a cidade pode sentir-se satisfeita, pois seu nome é bastante citado no Inferno (‘per lo ‘nferno tuo nome si spande’)”. Os donos do poder não ficavam felizes.
 Khede completa: “De fato, no canto anterior, o vigésimo quinto, na sétima fossa, Dante havia acabado de encontrar cinco ladrões florentinos (vários personagens históricos florentinos circulam pelo Inferno)”. A obra de Dante não para de encontrar novos admiradores e personagens atuais.


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Nesta quinta-feira, 16 de setembro, às 14h horas, haverá uma sessão cultural especial da Academia Nacional de Medicina, com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, membros da Academia Brasileira de Letras e com a participação do acadêmico Prof. Gilberto Schwartsmann - falando sobre a Divina Comédia - e o Prof. José Francisco Alves - abordando a obra do pintor Cícero Dias. Acesso livre pelo site anm.org.br.


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