De quem é a culpa?

De quem é a culpa?

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Nas crises sempre é importante designar o culpado. O segundo governo de Dilma Rousseff fez água muito cedo. Mesmos os petistas mais cascudos criticam a política econômica da “presidenta”. Foi nessa brecha que penetrou o elemento parasita para minar o organismo doente e matá-lo. Todo mundo sabe como Michel Temer e sua turma desidrataram o petismo atolado para tomar-lhe o poder. Em parceria com o DEM e com o PSDB trabalharam para aumentar a crise econômica votando em favor até de projetos aos quais tradicionalmente se opunham. Em seguida, transformaram as corriqueiras pedaladas fiscais em crime. Por fim, veio a “Ponte para o Futuro”, um programa para ganhar o mercado.

A corrupção serviu de fundo para embalar a mídia e mobilizar a população. O mesmo furor anticorrupção não se repetiu nestes já intermináveis dois anos de governo Temer, o minúsculo. A lama cobriu o Planalto. As provas acumularam-se em jorros homéricos de cheiro insuportável. Áudios e imagens espetaculares deram aos investigadores material para condenações sólidas. Nada aconteceu. Temer abriu as burras oficiais e comprou com emendas e cargos os transportadores de cargas no lombo disponíveis. A contenção fiscal virou miragem. A ponte para o futuro ruiu feito uma pinguela improvisada. O mercado sorriu.

Quanto mais a situação piorava, mais o presidente discursava para si mesmo. Chegou a pensar que poderia ser eleito. Cogitou candidatar-se. O seu ex-ministro da Fazenda, o colossalmente carismático e popular Henrique Meirelles, ainda sonha com o impossível. Para que sonhar se não se quiser a lua? O ex-aliado de Temer, o também sonhador Rodrigo Maia, senta-se em cima de 27 pedidos de impeachment contra Temer, todos consistentes demais para irem a julgamento. Quando nada mais parecia apresentar a realidade aos velhos novos donos do poder, os camioneiros encarregaram-se de botar o pé no freio. Temer descobriu a lei da inércia. Bateu de cara no para-brisa.

Começou o jogo da caça ao culpado. A direita jura que a culpa é de Dilma e Lula. A esquerda não hesita: a culpa é de quem colocou Temer na presidência da República. No empurra-empurra, a direita não cansa de lembrar que quem elegeu Dilma também elegeu Temer. A esquerda replica que elegeu Temer para ser decorativo e que a direita foi às ruas para garantir-lhe poder efetivo. O estrago está feito e parece ser obra coletiva. O mercado esconde a cabeça na areia. Democracia, Estado de Direito, regras do jogo e outras ninharias desse tipo não o comovem. Costuma pensar apenas nos resultados imediatos em contas bancárias e ações. O que conseguiu? Um país parado. Desolação pura.

Quem maltrata mais a Petrobras? Um cartel de partidos, incluindo direita e esquerda, organizou-se para saquear a petroleira. Já nos tempos de FHC o jornalista Paulo Francis denunciava corrupção na empresa. Hoje, o jogo é simples: uns sugam para fins internos enquanto outros entregam para o chamado capital internacional. O pior aconteceu. O mercado deu o seu aval. Poderia ser considerado culpado?

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