Diário da quarentena (3)

Diário da quarentena (3)

Domingo sem parque

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Chegamos ao domingo.

O sol brilha lindamente.

As ruas estão vazias, mas não tanto quanto seria o correto.

Releio A Peste, de Albert Camus.

Fico com mais medo.

O temor do vírus mistura-se com a ansiedade.

É preciso que a mente ajude.

Minha rotina mudou, mas nem tanto. Trabalho muito em casa. Escrevo.

A ideia de confinamento, porém, altera o imaginário.

A angústia não perdoa.

Criamos a Confraria do Zoom.

Reunimos amigos no aplicativo como numa mesa de bar.

Revejo o documentário de Eduardo Escorel sobre Getúlio Vargas.

Três horas agora é curta metragem.

Domingo sem Brique da Redenção, sem churrasco no Barranco, sem futebol.

Cada vez me interesso mais pelas notícias sobre remédios e vacina.

A contabilidade dos mortos mexe com os "nervos".

Pandemia de vírus e de mídia.

A boa cobertura, caso a caso, não deixa de pesar como uma infecção.

Quanto mais sabemos, mais nos protegemos e mais nos angustiamos.

Penso no pós-pandemia.

Olho o hospital na frente de casa e respiro: tranquilo.

É parte nova, ainda não equipada.

Sonho que não haverá familiares, amigos e colegas entre as vítimas.

Sonho que saio ileso e corro para o abraço.

Ouço Stan Getz.

 


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