Elogio da ciência

Elogio da ciência

Voltaremos ao ordinário graças aos extraordinários cientistas

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      A Inglaterra vai começar a vacinar a sua população contra a covid-19. Não será com a vacina da Oxford, que se atrasou um pouco, mas com a Pfizer. A Itália já avisa que vai iniciar a imunização em janeiro. Os canadenses reservaram dez doses para cada um dos seus habitantes. Na Inglaterra tudo passará pelo sistema público de saúde. Os italianos não terão de pagar pela proteção. Os cientistas, que sempre criaram o extraordinário, vão devolver o mundo ao ordinário, à normalidade. No passado, cientistas provaram que a Terra não é plana. Só a ignorância ainda duvida. Agora, levaram menos de um ano para criar várias vacinas que darão a volta ao mundo blindando pessoas contra um forte inimigo invisível.

      Discute-se se a vacina deve ser obrigatória. Por que não? De qualquer maneira, não deixa de ser estranho que alguém tenha de ser obrigado a proteger a própria vida. O normal é que cada um corra para ser vacinado. Curioso é saber que haja entre defensores do porte de armas de fogo como meio de proteção contra inimigos visíveis oponentes à vacina, que permite enfrentar o inimigo invisível. Volta-se ao princípio do dano presente nas reflexões do John Stuart Mill. Se uso, por exemplo, máscara, como deve ser, eu me protejo e protejo terceiros. Não fazer isso significar colorar outros em risco. O que pode levar alguém a não querer se vacinar? Uma hipótese é a ignorância disfarçada de convicção. Neste ano da peste, a ciência foi desafiada. Ao final, a salvação virá desse campo aberto ao debate e avesso aos dogmas. Em ciência só contam evidências, fatos e demonstrações.

      As vacinas, com mais de 90% de eficácia atestada, devem reabrir as economias, não por decreto ou voluntarismo político, mas por resultados em favor da saúde passiveis de verificação e contabilização. As controvérsias inúteis ficarão para trás. Serão jogadas no lixo das polêmicas ideológicas bizarras. Constará como nota de rodapé de uma História do Ano da Pandemia o registro de que alguns políticos quiseram saber mais do que os cientistas e receitaram como certo o que era duvidoso. Não esqueceremos o que sentimos, o que dissemos, o que ouvimos, quem perdemos. Há luz diante de nós. O ano de 2021 poderá entrar trazendo esperanças de felicidade e de liberdade. Não é pouco. Parecia impossível ainda ontem.

      Em 2021, várias vacinas estarão disponíveis: inglesa, americana, chinesa, russa, etc. A nacionalidade não importa. Há muitas parcerias entre países. Ideologia, em ciência, nada significa. O que conta é a eficácia com segurança. Protege ou não? Cientistas pedem cautela. Não se eliminará o vírus de um dia para outro. Há complexas questões de logística em jogo. O otimismo, porém, é inevitável. Estamos próximos do fim do pesadelo. Papai Noel tem profissão: cientista. Que melhor presente de Natal do que a vacina? Como vamos recompensar esses pesquisadores que nos devolverão as ruas, os abraços, os encontros, as viagens, o presencial e as aglomerações seguras? Nobel para todos. A ciência é a grande vencedora de um ano que parecia feito de derrotas. Como dizia Horácio, e depois dele Kant e os iluministas, “ousa saber”. Em janeiro, o Brasil receberá 15 milhões de doses da Oxford. Beleza. Fora disso só existe o rompante ideológico. Obrigado, ciência.


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