Enrolações do Queiroz

Enrolações do Queiroz

Assessor admitiu que recolhia parte dos salários dos colegas

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Agora é oficial: Queiroz, o faz-tudo de Flávio Bolsonaro, é um enrolador. Mente e enrola.

Quando foi pego na malha fina do Coaf, sumiu. Flávio Bolsonaro garantiu que nada havia de errado no seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. As denúncias não passariam de intrigas para atingir o pai. Passado algum tempo, Queiroz, que ficou escondido na favela do Rio das Pedras, reduto da milícia cujo chefe havia sido homenageado por Flávio Bolsonaro, reapareceu e declarou na televisão que fazia negócios com carros. Detalhe: a mãe e a mulher do miliciano mor, patrão do Escritório do Crime, trabalhavam no gabinete de Flávio.

      Queiroz recusou-se a comparecer ao Ministério Público. A sua família, brindada com mamatas nas assessorias de Flávio e fiel depositadora de quantias mensais na conta do arrecadador de confiança, também não se dignou a dar uma palavrinha com o MP. Acometido de uma doença brava, o carioca Queiroz foi parar no Albert Einstein, em São Paulo, de onde dançou para o celular no final do ano. Depois, retraiu-se novamente. Baixada a poeira, Queiroz fez o que queria. Mandou uma carta para o Ministério Público com as suas novas explicações, a terceira versão. Recapitulando: nada havia; era negócio de carros; é outra coisa.

      O que é? Queiroz, desta vez, admitiu que tungava o salário dos colegas. Em resumo, antes mentiu para o SBT e para o país. Confessou agora que mordia sim os salários dos funcionários de Flávio por uma “causa nobre”: contratar mais gente para servir ao chefe. Assim como na versão para a televisão, quando deixou para depois o nome do hospital onde teria estado inicialmente internado e não deu pistas dos carros negociados, Queiroz relegou desta vez para o futuro os números e os nomes dos funcionários extras contratados. Queiroz deita e rola, mente e enrola.

      O faz-tudo sorridente tem colaboradores fieis.

Um deles depôs ao MP dizendo que entregava quatro mil, de seis mil recebidos a cada mês, para que Queiroz os investisse. Assegurou que recebia o retorno em dinheiro vivo com ganho de 18%. Como ficará a sua declaração agora que Queiroz deixou de atuar como corretor?

      O que pretendia Queiroz quando sumiu e quando falou em venda de carros?

Ganhar tempo. Para quê? Uma hipótese não improvável é que ele quisesse dar tempo a Flávio Bolsonaro de assumir seu posto de senador. Certamente ser senador dá uma sensação maior de segurança e blindagem. Como o Brasil inteiro imaginava, o dinheiro que pingava todo mês na conta de Queiroz era devolução compulsória de parte dos salários dos assessores de Flávio Bolsonaro. Pode isso, Arnaldo? Evidentemente, como era esperado, Queiroz garante que Flávio não sabia de nada. Triste situação para um jovem senador. Não via proliferarem os assessores em seu redor? Ninguém reclamava para ele de ser tungado todo mês? Bem, os familiares de Queiroz não seriam desleais com o gerenciador da casa. A trama vai se fechando.

      Por que Queiroz não foi ao MP?

Elementar, meu caro leitor: apertado por procuradores, ele certamente se atrapalharia nas respostas lentamente cozinhadas para não apresentar brechas no leito imaculado do papel. Mas o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado, acha que o país não pode perder tempo com “bobagens”. Já tivemos o engavetador da nação. Queiroz reina soberano como enrolador da nação. O ministro Sérgio Moro não vê problemas nisso. Não lhe cabe, diz, falar de casos concretos. Ensurdece o país o barulho do silêncio dos que combatiam a corrupção.


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