Estética de carros

Estética de carros

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Fico bobo ouvindo Renato Rossi e Rogério Mendelski falarem de carros.

Eles sabem tudo.

Eu, nada.

Herdei meus poucos conhecimentos do setor de uma tia.

Ela classificava automóveis em três categorias definitivas: ônibus, caminhões e fuscas.

Cheguei a cobrir dois salões europeus de automóveis: Paris e Genebra. Rapidamente esqueci o que havia aprendido para a cobertura lendo revistas especializadas. Ultimamente, porém, tenho observado a estética dos carros, o desenho, o que se chama agora de design. Sou do tempo em que cada carro era totalmente diferente do outro.

Era fácil identificar um Maverick, uma Brasília, um Corcel, um Opala, uma Variant, um Passat ou uma Rural.

Não é mais assim. Estão todos muito arredondados.

Depois de muita análise, estabeleci algumas classificações provisórias quanto ao tal design.

Existem os carros estilo Marlboro, as camionetonas do pistoleiro solitário, cinquentão, silencioso, enigmático, barba de dois dias e, quem sabe, um livro de Charles Bukowski no porta-luvas (ainda se chama assim aquele lugar de enfiar coisas disparatadas, inclusive, em alguns casos, revólveres?). Outra categoria é a dos Sedan luxo. Acho.

Peguei carona em um.

Os bancos (ou poltronas?) lembram sofás de sala de presidente de Senado. É carro para se usar com gravata e terno cinza.

Tem também os carros estilo patife, canalha ou bad-boy, Ferrari, Jaguar, Aston-Martin e outros. Custam uma baba. Em certo sentido, são espetaculares. Paradoxalmente são feios. É a lógica Mc Donald’s: pega-se a melhor carne, o melhor tomate, melhor alface, melhor ovo, o melhor pão, o melhor tudo, enfim, e sai disparado o pior sanduíche.

Ou dos objetos de exibição de poder de certos chefes indígenas sem outro destino para suas riquezas pomposas.

Tem carro tão imponente que parece certas casas de novo rico. Fica brega por excesso de luxo. É como andar com um diamante do tamanho de uma melancia no pescoço ou com esses correntões de ouro de jogador de futebol e traficante. Tem também os brincos do Robinho. Tudo variante do dente do ouro do bicheiro de outrora. Carro é imaginário.

A indústria automobilística sabe disso. Fabrica também carrinho de ir ao supermercado. Mas isso não encanta os compradores. Vou dizer algo profundamente psicanalítico: o carro revela a personalidade do dono.

Conheci uma moça que queria ser analisada no divã do seu bólido (fazia tempo que não encontrava uso para essa palavra). Diagnóstico precipitado: complexo de castração.

Por fim, vou fazer propaganda sem a intenção de vender, até porque ninguém compraria um carro indicado por mim, não sei dirigir. O design mais bonito que vi é o Kia Soul (o Rogério e o Renato me dissera que é esse o nome do carrinho, eu só vi que é da Kia). Eis um visual diferente, levemente arrojado, sem parecer uma nave espacial ou uma banheira de motel de executivo.  Tem graça, leveza, originalidade e charme. O Vladimir Oliveira, escudeiro do Rogério no Bom-Dia, foi preciso: é um carro feminino. Aí está. Adoro visual feminino. O Kia Soul é uma gata.

Se me mandarem um como recompensa por este texto, recusarei. Aceito uma bicicleta.

Meu sonho é ir para a PUC de metrô. Flamante.

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