FHC e a compra de votos para a reeleição

FHC e a compra de votos para a reeleição

Ex-presidente diz que governador usou recursos financeiros

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      Aos 89 anos de idade, Fernando Henrique Cardoso está lúcido e combativo. Em entrevista ao Esfera Pública, da Rádio Guaíba, na última segunda-feira, defendeu a democracia, atacou as tentações autoritárias que não param de mostrar os dentes, salientou que prefere não ver Jair Bolsonaro sofrer impeachment, por ter sido eleito pelo povo, mas não consegue, com sua longa experiência política, vislumbrar se o presidente terminará ou não o mandato. Questionado sobre a recorrente denúncia de que teria havido compra de votos para a aprovação da emenda constitucional que permitiu a sua reeleição, deu uma boa manchete, que em outros tempos ecoaria: houve compra de apoio em um Estado por iniciativa de um governador.

      A oposição, segundo FHC, também comprou votos contra a emenda da reeleição: “Todo mundo queria a reeleição. As pesquisas de opinião todas eram favoráveis à reeleição. Eu votei na constituinte por um mandato maior. Queria a reeleição também. Por quê? Porque eu acho que em quatro anos não se consegue fazer muita coisa. Com relação à compra de votos, é mentira. O que aconteceu? Havia quem transacionasse votos, especialmente do lado o contrário. Mas também não vou acusar, pois não é meu estilo. Agora, houve compra de votos em Estados, especialmente num Estado. O governador era favorável à reeleição e parece que usou recursos financeiros para tirar três ou quatro votos de um lado e passar para o outro, como houve em outros Estados o contrário. Eu nunca me envolvi nisso e confesso que combati sempre, mesmo naquela ocasião, diretamente. E ganhei no Senado com 80% dos votos. Na Câmara, 60%. Isso é argumento de quem perdeu. Perdi porque o outro comprou a eleição. Você acha que naquela altura da vida, tendo feito um governo, eu ia gastar minha moral para comprar votos?”

FHC lembrou que vivem dizendo que ele tem apartamento em Paris: “Mentira. Não tenho coisa alguma”. A compra da emenda da reeleição tem até folclore. O deputado Ronivon Santiago, do Acre, que passou por PFL, PMDB e PP, confessou ter recebido R$ 200 mil para votar a favor da autorização para um segundo mandato. O delator Pedro Correa, já na Lava Jato, contou que Santiago levou também dinheiro de Paulo Maluf para votar contra a reeleição.
Em terra de malandro, malandragem dupla fatura obviamente dobrado. FHC diz que não sabia e que era contra a compra de votos. Mas afirma ter ficado sabendo que ela aconteceu por parte de um governador. Por que esse assunto não escalou os muros do Ministério Público e da justiça? Por que nem com confissão rendeu um olhar inquisitivo? Mistérios brasileiros. Aqui, como se sabe desde 1831, quando a lei que proibia o tráfico foi feita para inglês ver, tem lei que pega e lei que não pega.

      Tem denúncia que acontece e denúncia que morre na casca. Tem Procurador-Geral da República que engaveta, que ignora, que milita, que bebe, que se mexe ou que sonha com uma vaga no STF. A compra dos votos para a emenda da reeleição, que permitiu o segundo mandato de FHC, tem algo de fábula, de lenda, de história repetida ao pé do fogo sem que ninguém se queime. Uma "case".

 

    


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