João Pedro, vítima do racismo brasileiro

João Pedro, vítima do racismo brasileiro

Menino negro foi executado em operação da PF

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      Ele tinha só 14 anos de idade. Era negro. Foi assassinado pela Polícia Federal, em casa, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, numa operação que contou com a participação da polícia militar fluminense e da polícia civil. Que crime havia cometido o menino? Um só: ser negro e estar no caminho de agentes que atiram primeiro e perguntam depois quem foi atingido. Alguém tem notícias de meninos brancos de classe alta alvejados por engano pela polícia, em casa, em bairros da Zona Sul carioca? Ainda bem que isso não acontece. Meninos brancos de classe alta merecem viver, assim como os garotos negros de qualquer classe.

      Mais espantoso é saber que se pretende isentar policiais de responsabilização por seus “erros” em ações. João Pedro é mais uma vítima do racismo estrutural brasileiro. Morreu na flor da idade por causa da incompetência e da brutalidade daqueles que são, em princípio, treinados para não cometer tais “derrapagens”. Neste Brasil hediondo da pandemia fora de controle, continuamos a ver o triste espetáculo das estatísticas que só engordam com vítimas negras da violência estatal. Baleado, o menino não foi levado para um hospital de referência nas proximidades, mas para um batalhão do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. A família ficou sem informações. Qual era o objetivo? Ganhar tempo, esconder o cadáver (o menino morreu no deslocamento), inventar uma desculpa, arranjar as coisas? Foi preciso uma campanha na internet para se chegar ao corpo de João Pedro. Um vexame para os envolvidos.

A população da região está chocada. O Brasil que acredita em direitos humanos também. “O plano de extermínio da população preta e favelada não pode parar", escreveu no Instagram a estudante de história Flávia Trindade. Queremos uma Polícia Federal sem vazamentos nem escolhas políticas. Uma PF republicana e sem aparelhamento, aparelhada para combater bandidos conforme os procedimentos legais. No pátio da casa onde João Pedro foi executado aparecem marcas de 71 tiros e um objeto que “parece um pino de granada”. Os policiais garantem que um traficante, invisível para todo mundo, pulou o muro da residência de João Pedro. Mesmo que isso tivesse acontecido, fuzila-se todo mundo?

João Pedro é mais uma vítima do racismo brasileiro, da violência oficial banalizada, do desprezo pelas populações das camadas mais vulneráveis e da prepotência dos aparelhos repressivos acostumados a considerar mortos inocentes como efeitos colaterais do que fazem. Quantos João Pedro já morreram sem que providências reais tenham sido tomadas? Falando francamente, dá tristeza e dá nojo. Estamos impotentes diante das mentiras, das armações, dos ataques irracionais, da falta de planejamento de governos e do massacre dos inocentes. Quem matou João Pedro, disso eu tenho convicção, deveria apodrecer na cadeia. Esperemos, contra todas as evidências, que seja punido dentro do devido processo legal e cumpra a pena conforme o previsto pela legislação. Somos um dos países mais racistas do mundo, de maior desigualdade e com violência policial desenfreada. Para dominar o crime não se pode considerar como parte do jogo o assassinato de meninos de 14 anos.

 


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