Joe Biden muda os EUA sem alarde

Joe Biden muda os EUA sem alarde

Presidente faz discretas revoluções

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      Os Estados Unidos eram o ridículo do mundo. Todos os dias Donald Trump soltava um coice e constrangia a humanidade. Ao menos, a parte racional da humanidade. Era uma festa para o jornalismo de sensações e pontapés. Talvez nunca um presidente de grande potência tenha sido tão grosso e nefasto. Aí veio Joe Biden, que Trump chamava de “Joe dorminhoco”, e mudou tudo sem fazer alarde. Quase não se ouve falar no presidente norte-americano. Não tem declaração bombástica, não tem gafe, não tem grosseria, não tem ameaça. Um tédio. As notícias que chegam da “América” impressionam: Biden prometeu vacinar cem milhões de americanos em cem dias. Atingiu a meta em 57. Tudo discretamente.

      As manchetes são assim: “Projeto de Biden é a mais ambiciosa iniciativa dos EUA desde o New Deal”. O velho democrata, por quem muitos não davam um dólar furado, resolveu colocar o Estado a serviço da maioria, o que sempre aborrece os mais ricos. A cada dia discreto de Biden, sereno e firme, Trump afunda-se ainda mais no esquecimento. Tudo vai bem? Não. Perfeição não existe. Ainda será preciso melhorar bastante no que se refere à entrada ilegal de imigrantes. O jornal francês conservador “Le Figaro” olha para os Estados Unidos com perplexidade: “Joe Biden dá o primeiro passo para uma reforma da Suprema Corte”. Explica: “Mantendo uma promessa de campanha, o presidente americano assinou decreto instalando comissão de especialistas que se debruçará sobre os aspectos mais sensíveis de uma eventual reforma da Suprema Corte”. Um político que cumpre promessas!

      O mais impressionante é a decisão de fazer o Estado colocar dinheiro na economia e na sociedade. A aprovação do “American Rescue Plan Act" injeta US$ 1,9 trilhão na vida da maioria. É subsídio para aluguéis, ajuda para produção artística, dinheiro para pesquisa e educação, grana para pagar energia elétrica e até anulação de algumas dívidas. Os republicanos moem-se de raiva. Ficou para trás o tempo em que política econômica ousada era diminuir os impostos dos ricos. A analista Fernanda Magnotta observa: “O que pouco se tem debatido no Brasil, no entanto, é que o "American Rescue Plan Act" é apenas a ponta de um imenso e complexo iceberg. Ele introduz a premissa que orienta, estrategicamente, a ação do governo norte-americano nesse momento de sua História: o investimento público forte como saída para dilemas sociais, econômicos e políticos do país”. O jogo é outro.

      Até o economista liberal brasileiro Samuel Pessôa teve de reconhecer a mudança: “Difícil saber exatamente o que ocorre, mas parece que Biden muda um navio que desde os anos 1980 estava na rota da redução do Estado e, principalmente nos EUA, da carga tributária”. A taxação do lucro das empresas deve subir de 21% para 28%. Pessôa também destaca que “haverá esforço coordenado dos EUA com os países da OCDE para que se institua uma alíquota mínima de imposto sobre a renda do capital. Se uma país adotar alíquota menor, os demais cobrarão a diferença”. Por que isso? Para frear a desigualdade. Enquanto isso o Brasil se vê ruidosamente às voltas com uma CPI da pandemia.

 

 

 

 

 


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