Livros para sonhar com o futuro

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Basta de séries novelescas

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      Basta de séries. A maioria não passa de novela mais curta. A melhor que vi ultimamente era mais longa: “Bolívar”. Serei considerado bolivariano por esta confissão? Está caindo de maduro que admiro o libertador? Risos. “Emily em Paris” é um besteirol só. Uma americana em Paris. Vamos ler. Generosamente ofereço sugestões. Para todos os gostos. Quer romance, leitor exigente e inquieto? Tem: “1935” (Libretos), do Rafael Guimaraens. Uma história que se passa nesta valorosa Porto Alegre no ano do centenário da Revolução Farroupilha. O que sacudia a capital naqueles distantes dias de comemorações?

      Quer fogos de artifício, instável leitor? Tem: “Max e os demônios” (Sulina), de Gilberto Schwartsmann, médico e pesquisador, como se dizia lá por 1935, na crista da onda. O “Journal Plon Biology” publicou um ranking de cientistas feito por uma equipe da Universidade de Stanford. Gilberto e mais três colegas da Faculdade de Medicina da UFRGS, Luiz Rohde, Flavio Fuchs e Roberto Giulianni, aparecem entre os 2% de pesquisadores mais influentes do mundo ao longo da carreira. E Gilberto ainda escreve belos livros. Jane Tutikian, na orelha da obra, dá o tom: “Que o leitor se prepare. Os desafios que tem pela frente são inúmeros. Começam por romance que não é romance. Ele brinca com a desconstrução dos gêneros e esse é um dos seus encantos”. O maior de todos os encantos é a imaginação do autor. Quem viver lerá. Ou verá?

      Outro livro desconcertante é “O crush de Álvares de Azevedo” (Libretos), de Jandiro Adriano Koch. Parece que o poeta romântico teve um caso (amor platônico?) gaúcho: Luiz Antonio da Silva Nunes. Bah! É tão instigante quanto “Os mortos não estão mais sós” (Sulina), do francês Vincent Petitet. Já falei desse livro. Se fosse da Todavia (Itaú) ganhava quilômetros de matérias do (da) Piauí até o Paraná. Contrariando a metáfora do ministro do STF Marco Aurélio Melo sobre processo, cada livro tem a sua capa e o selo de uma editora. Isso define o julgamento. Tem outros livros provocativos: “Moro, o herói construído pela mídia” (Kotter), de Tarcis Prado júnior, “As vozes do gol, história da narração de futebol no rádio de Porto Alegre” (Insular), de Ciro Götz. Santos de editora pequena não fazem milagres?

      Outro livro sensacional é “Objetos da Bahia, entrevistas” (Mondrongo), de André Lemos. Na época da internet das coisas e na qual o renomado Bruno Latour defende um parlamento das coisas, Lemos entrevista os objetos referenciais da Bahia: berimbau, abadá, fitinha do Senhor do Bonfim, rede, livro de cordel, corda de bloco de carnaval, trio elétrico, guitarra baiana, turbante, tambor de Olodum, colar de contas, coco, cocada e por aí vai. É divertido demais. Uma falação. O abadá da capoeira dá o troco. Perguntado se os humanos são objetos, não hesita: “Claro. Vocês acham que são o quê? Para mim, tudo é objeto, os animais, os seres imaginários, as coisas da natureza, os objetos feitos pelo homem ou por outros animais, as leis, as instituições, a língua...” Toma. Bota o homem no seu lugar natural.


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