Meus livros em dose tripla

Meus livros em dose tripla

Acordei negro, Brizola, vozes da legalidade e Ser feliz

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Tenho vivido para os livros. Nada me fascina mais. Meus leitores sabem disso. Eles já podem encontrar nas livrarias minha dose tripla deste mês de outubro: a segunda edição (quarta reimpressão) de “Ser feliz é tudo que se quer”, o pensamento de 42 filósofos, da antiguidade aos nossos dias, sobre a felicidade e o bem-viver; a nona edição de “Vozes da Legalidade, política e imaginário na era do rádio”, que é meu livro sobre Leonel Brizola; de resto, o nome desse mito gaúcho, personagem incontornável e sedutor, agora, corrigindo-se um erro, aparece em letras garrafais na capa, assim como fiz com Getúlio (2004) e Jango (2013); por fim, um lançamento, meu romance “Acordei negro”, aquele pelo qual, se for o caso, quero ser lembrado.

      Para mim, a grande questão da filosofia do século XXI é a felicidade. Um retorno ao que importava aos gregos antigos. Em história, ainda precisamos reconhecer mais profundamente o papel desses três monstros da política nacional: Getúlio Vargas, Leonel Brizola e João Goulart. Brizola foi um vulcão cuja lava ainda se espalha por nossas encostas. Faz uma falta incomensurável neste tempo cinza. Depois de 11 anos, volto a publicar um romance de ficção pura: “Acordei negro”. Nesse meio tempo, publiquei romances de não-ficção, como “1930, águas da revolução”. O último romance mesmo foi “Solo”, em 2008. “Acordei negro” conta a história de um homem que, ao despertar, vê-se negro diante do espelho. Ele vai buscar a sua origem.

      No final de 1995, morando parte da semana em São Paulo, trabalhando na revista IstoÉ, tomei uma decisão: não sairia mais de Porto Alegre. Depois disso, recusei convites de dois grandes jornais e não quis apostar na perspectiva da vida acadêmica numa grande universidade do centro do país. Abracei meu lugar. Tenho sido muito feliz na PUCRS, no Correio do Povo e na Rádio Guaíba. Quis ficar para fazer jornalismo, ser professor e produzir a minha obra onde me sinto bem. Cada livro é um passo numa escala de amadurecimento. “Acordei negro” não poderia ter sido escrito antes. Eu não estava pronto.

      “Acordei negro” tem os selos de duas editoras, a Sulina e a Figura de Linguagem. Dois grandes editores, Luís Gomes e Luiz Mauricio Azevedo. É deste último esta síntese: “Em seu mais ambicioso empreendimento literário, Juremir Machado da Silva conta com uma dupla chancela editorial, que une a Figura de Linguagem – editora criada e dirigida por indivíduos negros – e a tradicionalíssima e incansável Editora Sulina. A edição conjunta é necessária para dar conta da enorme tarefa apresentada pelo autor: construir um projeto estético onde caiba um livro do tamanho de Acordei Negro, a mais radical experiência literária, produzida por um indivíduo branco, em território nacional, até o momento. A obra gira ao redor de um narrador complexo, que ora mistifica os indivíduos negros e ora os adula, em um duelo simbólico em que méritos íntimos e vergonhas históricas se misturam”. Meu amigo David Coimbra leu o copião: “É original, perturbador e surpreendente. Definitivamente, não é um romance comum”.

Olhei o livro sobre a mesa e penso: dei meu sangue.

 

 

 


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