Nós torturamos para não matar

Nós torturamos para não matar

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Fernando Jorge é um baita intelectual.

Escreveu um livro espetacular sobre Getúlio Vargas. O requentador Lira Neto tentou dar uma de gostosão dizendo que tinha descoberto o discurso de formatura de Vargas. Já estava tudo no livro de Fernando Jorge.

O mesmo Fernando Jorge, em "Cala a boca, jornalista", descreve uma das cenas de tortura mais devastadoras dos primeiros dias do regime militar de 1964, acontecida em Recife.

Jorge cita uma declaração de um militar, Hélio Ibiapina, torturador de primeira hora em Pernambuco, feita ao jornalista Márcio Moreira Alves na frente de Dom Hélder Câmara. Algo para entrar na história universal da infâmia sem Borges:

"Muitas vezes o senhor tem vindo ao IV Exército reclamar de torturas contra presos políticos. Traz os nomes e as torturas a que esses homens foram submetidos e não sei como consegue estas informações. Invoco o seu testemunho para dizer que nunca neguei que as torturas existissem. Elas existem e são o preço que nós, os velhos do exército, pagamos aos jovens. Caso tivessem os oficiais jovens empolgado o poder, os senhores estariam hoje reclamando não de torturas, mas de fuzilamentos. Nós torturamos para não matar."

Essa citação chama a atenção quem pesquisa a nossa história recente. Eu destaquei parte dela em Jango, a vida e a morte no exílio.

É a confissão de um torturador de primeira hora.  Castelo Branco mandou Ernesto Geisel investigar. O futuro ditador voltou com um resultado espantoso: nada mais do que boatos. A ditadura era surda, cega e cínica.

 

 

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