O intelectual orgânico do ignorancialismo

O intelectual orgânico do ignorancialismo

Olavo de Carvalho é o guru do obscurantismo

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Pensador marxista, o italiano Antônio Gramsci consagrou o conceito de intelectual orgânico: “Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um mundo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político: o empresariado capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito”.

O intelectual orgânico produz e dissemina ideologia para consumo da massa, que deve ser conduzida como rebanho.

Gramsci destacou que “o tipo tradicional e vulgarizado do intelectual é fornecido pelo literato, pelo filósofo, pelo artista. Por isso, os jornalistas – que creem ser literatos, filósofos, artistas – creem também ser os ‘verdadeiros’ intelectuais”. Quem é o intelectual orgânico do momento? Olavo do Carvalho. Graças a ele, por meio das redes sociais, a nova direita vem conquistando adeptos.

Olavo comanda uma guerra cultural cujo método é a lavagem cerebral. O objetivo é dominar as consciências, manipulá-las, negar fatos históricos, construir uma nova narrativa e impor uma visão ideológica. Na sua lógica delirante, os militares não deram golpe em 1964 e muito menos salvara, o país do comunismo. Ao contrário, teriam entregue o país aos comunistas de universidade.

E tem que pague para ouvir isso!

O intelectual orgânico vê-se como guru, aquele que pensa e indica o caminho, mas é usado para asfaltar a estrada. Gramsci precisou: “Os intelectuais são os ‘comissários’ do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político”. É papel desses “comissários” garantir o consenso “espontâneo” da massa aos projetos das elites e diminuir, pela ideologia, o trabalho do “aparato de coerção estatal”. Olavo acha que controla o bolsonarismo, mas é o seu instrumento. Ninguém corresponde melhor hoje no Brasil ao tipo-ideal do intelectual orgânico do que o Bruxo da Virgínia, líder do Foro de Richmond, organização focada na conquista do poder para a extrema-direita em toda a América Latina.

Outro marxista, Louis Althusser, disseminou o conceito de Aparelho Ideológico de Estado (AIE), responsável por reproduzir a ideologia dominante. Olavo de Carvalho, como intelectual orgânico do novo regime, foca no Ministério da Educação para instrumentalizar e aparelhar o ensino como meio da difusão da ideologia que representa. Olavo de Carvalho é um marxista     às avessas, um gramsciano-althusseriano de sinal invertido. Quer colonizar as mentes dos jovens.
      A ideia é antiga e controvertida: a mente dos jovens é página onde se pode escrever ou gravar a ideologia a ser reproduzida. A escola, nesse sentido, deve ser aparelho de doutrinação. Foi o que defendeu o ministro da Educação, indicado por Olavo de Carvalho, agora defenestrado, ao falar em rever os livros didáticos sobre 1964. O olavismo é explícito no seu projeto doutrinador. Depois do lulopetismo, o olavo-bolsonarismo, projeto explícito de partidarização da educação. Contra a pedagogia do oprimido, a pedagogia do opressor. Não é escola sem partido. É escola sem o partido do oponente. Simples. Olavo de Carvalho não existe no mundo intelectual. Talvez em outro planeta.

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Hoje, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, poderá ser aprovado uma lei que privatiza parques e praças por tempo determinado. Vai depender da rejeição ou não de algumas emendas. Fechar parque para uso privativo e cobrar ingresso, ainda que em evento, privatiza espaço público.

 


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