Pós-tudo, ou o país dos golpes

Pós-tudo, ou o país dos golpes

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 Eu me defino com o poema concreto de Augusto de Campos: pós-tudo.

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Mas sou visto como pré muita coisa. Quando surgiram os celulares, aqueles objetos enormes que só serviam para falar, com som ruim, não aderi imediatamente. Esperei o i-phone, um computador de bolso. Tive meu primeiro computador em 1993, um classic da Apple. Faço parte dessa tribo. Vivo de paradoxos. Sou amigo de Pierre Lévy, intelectual da era da internet, e de Dominique Wolton, crítico da ideológica tecnicista, a ideia de que a tecnologia produz necessariamente mundos melhores. Os moderninhos me acham atrasado. Outro dia, numa conversa despretensiosa, falei algo do gênero:

– Ele já se logou?

– Não se diz mais logar. Estás velho, hein?

Nada tenho contra os velhos. Nem contra os novos. Ideologia tecnicista é esse deslumbramento com a superfície das coisas. Sempre que algo se mostra útil, lúdico ou capaz de me dar algo de bom, vou fundo. Aí noto que os adeptos da espuma das coisas ficam para trás. Já me autopubliquei na Amazon. Era uma experiência que ainda não tinha. Não entendo quem não encontra editora e abdica dessa possibilidade. Não compreendo os poetas. Por que querem publicar em papel, se poesia praticamente não vende, podendo lançar na rede?

Comecei a publicar vídeos na internet.

Muita gente me vê como um dinossauro se modernizando. Não vejo nada de extraordinário em colocar vídeos no youtube e no facebook. Criei um formato para mim: DogPal 2016. Estou fazendo isso só agora por uma razão simples: praticidade. Não se trata de decepção com índice de leitura. Mas somente de um recurso a mais que me dá prazer. Só crio por prazer. Continuo nos livros. Nos últimos cinco anos, enquanto publicava vários títulos, escrevia outros. Terminei aqueles que penso serem os meus livros mais importantes: Segunda-feira, 14 de maio de 1888 - a abolição na imprensa e no imaginário social (raízes do conservadorismo brasileiro); e Diferença e descobrimento - o que é o imaginário? (a hipótese do excedente de significação). Joguei tudo.

Mas não é só isso. Tenho um romance pronto – A segunda vez de

Quelimane a Samarcande ­ – e um livro de poesia. Sem contar a atualização de um livro que lancei faz muitos anos e precisava ser ampliado. Em meio a tudo isso, dou aula, faço duas ou três palestras por semana, escrevo esta coluna diária, alimento meu blog, delicio-me ao lado da Taline no Esfera Pública, dou aula, pesquiso, oriento monografias, dissertações e teses e, apesar do ombro quebrado, continuo a fazer meus golzinhos sábado à tarde.

A vida é mesmo bela.

Não resisto a projetos de última hora. Fui convencido a reunir textos desta coluna em novo livro, que autografo hoje, 18h30, no Café Cantante (Fernandes Vieira, 615): Corruptos de estimação (e outros textos sobre o golpe hiper-real). Estou na fase bar. Pós-tudo. Pré-futuro. Em busca de um sentido para as ideias que me escravizam. Quando digo eu, como agora, digo todos nós. Somos todos iguais em nossas diferenças. Buscamos uma distração na vida.

A minha é criar.

Criar problemas.

https://youtu.be/SHqYQFrMxpo

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