Pelas ruas da cidade
Poesia em tempos de ódio
publicidade
Hoje comi peixe no Mercado Público
Cocei a barriga como um bronco,
Lambi os beiços e até comentei:
A poesia morreu. Está enterrada.
Depois, voltei para casa de ônibus
Lendo os poemas colados no vidro
Acho que adormeci e morri
Encontrei Deus depois do túnel
Ele me disse: bem-vindo, poeta
Então, desci, subi apressado,
Espichei-me no sofá para repousar,
Quem sabe sonhar com Deus e o paraíso,
Um paraíso de poetas frescos, leves,
Que sobem pela frente e pagam passagem.
A luz que filtrava pela janela era glauca
Perdi a vida procurando palavras no dicionário
Agora, aposentado, jogo tudo fora com as espinhas
Salvo essa claridade que indica o caminho
Quando eu morrer, quero peixe, poesia e muito sol.