Pelas ruas da cidade

Pelas ruas da cidade

Poesia em tempos de ódio

publicidade

Hoje comi peixe no Mercado Público

Cocei a barriga como um bronco,

Lambi os beiços e até comentei:

A poesia morreu. Está enterrada.

Depois, voltei para casa de ônibus

Lendo os poemas colados no vidro

Acho que adormeci e morri

Encontrei Deus depois do túnel

Ele me disse: bem-vindo, poeta

Então, desci, subi apressado,

Espichei-me no sofá para repousar,

Quem sabe sonhar com Deus e o paraíso,

Um paraíso de poetas frescos, leves,

Que sobem pela frente e pagam passagem.

A luz que filtrava pela janela era glauca

Perdi a vida procurando palavras no dicionário

Agora, aposentado, jogo tudo fora com as espinhas

Salvo essa claridade que indica o caminho

Quando eu morrer, quero peixe, poesia e muito sol.

 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895