Privatiza que melhora?

Privatiza que melhora?

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Pedágios paranaenses

 

      “Privatiza que melhora”, diz o mantra liberal. A aplicação, porém, nem sempre condiz com a máxima. O leitor apressado poderá compreender esta introdução como uma crítica ao capitalismo. Se for muito ideologizado e irritadiço, ele me chamará logo de comunista. É uma grande injustiça que sofro constantemente. Tenho sido chamado de “esquerdista caviar”, o que mostra o enorme desconhecimento em relação à minha modesta pessoa. Eu estaria mais para esquerdista “foie gras”. Já me ironizaram por ir a Paris e ter i-phone. Não encontrei na obra de Karl Marx qualquer recomendação ao proletariado para viver espartanamente. A ideia parecia ser outra: elevar a condição de vida espartana do proletariado dando-lhe acesso aos bens que produz.

Ficou, como se diz em jornalismo, um nariz-de-cera essa abertura pretensamente criativa. Longa e suprimível. Aos fatos. Estive no Paraná. Li jornais em Cascavel. O assunto principal era o fracasso das concessões de rodovias feitas há duas décadas pelo governo de Jaimer Lerner. Nesse generoso espaço de tempo o balanço seria o seguinte: as seis empresas beneficiadas arrecadaram R$ 44 bilhões e investiram R$ 1 bilhão na duplicação das estradas. No caminho, um rastro de aditivos secretos, denunciados pelo Tribunal de Contos, de tarifas infladas e de obrigações não cumpridas. Resumo da decepção: o pedágio mais caro do país. As concessões não serão renovadas em 2021. A utopia acabou.

Os pedágios do Paraná foram pegos na rede da Lava Jato. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, figura conhecida dos brasileiros pela sua exposição na mídia, sentiu o cheiro de superfaturamento e outros que tais e resolveu investigar. Ele cunhou uma frase a ser considerada: “A privatização não leva necessariamente ao fim da corrupção”. Outro membro do Ministério Público, Diogo de Mattos, informou em fevereiro deste ano que “o usuário final acabou prejudicado por uma tarifa alta que era desviada para outro propósito que não o interesse público”. Confesso que eu não tinha pensado nos pedágios do Paraná, embora tivesse ouvido que eram espetaculares.

Falou-se em “máfia dos pedágios” e em outras expressões pouco edificantes para as empresas envolvidas com o objetivo de melhorar as estradas pelo fato de serem privadas. O jornal “O Paraná” me educou com uma reportagem digna de nota cujo ponto alto me pareceu este parágrafo: “Nos últimos anos, uma série de investigações de CPIs e do próprio TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná) apontaram atos secretos envolvendo as concessionárias e seus respectivos contratos de pedágio, além de tarifas supermajoradas. Entre eles estão aditivos nunca publicados com remodelação dos contratos sem o devido conhecimento público, eximindo as administradoras de uma série de obrigações legais. Até hoje ninguém foi punido”. Não é informativo?

Uma frase me tocou: “A Viapar não entregou nenhum quilômetro duplicado até agora”. As empresas deveriam fazer 800 quilômetros de duplicação. No Oeste realizaram 62,3 quilômetros. Empurraram para os últimos três anos a entrega. Como é bom viajar. Ficamos mais cultos. Aprendemos que costumam nos enganar.

– Privatiza que melhora!

 

 

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