Roberto Carlos 8.0

Roberto Carlos 8.0

Cantor faz 80 anos hoje

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      O “rei” faz 80 anos hoje. Ninguém tem carregado a coroa com tanto merecimento. Roberto Carlos consagrou com sua voz muitos clássicos da música popular brasileira. Cito cinco: “Detalhes”, “Outra vez”, “O portão”, “Não se esqueça de mim” e “Jovens tardes de domingo”. Se colocar seis, entra “Cavalgada”. O homem sempre foi múltiplo. Tem o cara ousado de “As curvas da estrada de Santos” e “Debaixo dos caracóis dos teus cabelos”. Tem o religioso de “Jesus Cristo” e “A montanha”. Tem o filho amoroso da bela “Lady Laura”.

      Tem de tudo. Quem não cantarolou alguma música de Roberto Carlos tendo mais de 50 anos de idade deixou escapar alguma coisa. Simples e complexas, as suas canções esbanjam poesia. Eu me debato tentando fixar qual a melhor música da vida de Roberto Carlos. Hesito entre as cinco já citadas. Há dias em que escolho “Detalhes”. Em outros, tendo para “Não se esqueça de mim”. Por fim, cravo “Outra vez”. Tudo depende do meu estado de espírito, capaz de ir do romantismo à nostalgia em cinco minutos. Se eu tivesse de escolher o melhor do Brasil em todos os tempos, diria sem pestanejar: a música popular. Ainda temos em vida monstros como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Milton Nascimento e Roberto Carlos. Quantos deixei de citar?

      Aposto que muito poeta adoraria ter composto letras tão simplesmente maravilhosas como as de “Detalhes” e “Outra vez”. Roberto Carlos sempre teve bons parceiros ou soube valorizar o trabalho de compositores como Isolda. As suas interpretações, porém, transfiguraram letras e músicas. Para os que se acham mais sofisticados, o personagem tem algo de brega. Que importa? É da vida como ela é vivida que fala. Todo apaixonado é brega. Todo desesperado por amor é dramático. Quantos não lamentam que o tempo da breguice tenha passado. Roberto Carlos é esplêndido. Fosse americano ou inglês, seria considerado um dos maiores do mundo. Aliás, ele é um dos maiores do mundo. Os jovens já não o escutam. O que escutam os jovens?

Figura enigmática e até sofrida, com seus traumas e segredos, com seus carrões e manias, Roberto Carlos escalou a montanha do sucesso com talento e trabalho. Nada lhe foi oferecido gratuitamente. Se a imagem não fosse duvidosa, diria que Roberto Carlos é o maior cardiologista da história do Brasil. Ninguém examinou como ele o coração de cada um de nós. Os seus diagnósticos são precisos, pegando cada detalhe, cada ponto fora da curva, cada chegada ou partida. Há dias em que escuto Roberto só para cantar com ele: “Quero que vá tudo para o inferno”. O que explica tanto sucesso? Arrisco: a suavidade da voz, a poesia das letras, o equilíbrio das melodias e a autenticidade.

Cada canção de Roberto Carlos parece dizer “assim são as coisas”. A sensação é de ouvir o próprio pensamento, que sempre fala melhor do que nossa boca. Acontece com Roberto o que se dá com os melhores cronistas. A pessoa que ouve acaba por dizer: “Disse tudo que eu senti”. Ou ainda sente. Não confio em quem nunca se emocionou com alguma música de Roberto Carlos. Sou um súdito fiel de Sua Majestade.


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