Tormenta, uma reportagem sobre Bolsonaro

Tormenta, uma reportagem sobre Bolsonaro

Livro aborda o primeiro ano de governo do capitão

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      Para vender, mesmo tendo qualidades, o mesmo precisa mudar de nome. Assim, por passe de mágica, fica diferente e mais interessante. Está na moda um novo gênero de livros: o instant book. Se chamar de reportagem, não cola. Mas tem jeito, cor, cheiro e forma de reportagem. Um exemplo que acabo de ler e de entrevistar a autora: “Tormenta – o governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”, da jornalista Thaís Oyama. Publicado pela fashion Companhia das Letras, não poderia ser uma reportagem. Só pode ser um instant book. Por definição, um instant book é feito na pressa, sem compromisso de durar para sempre, abordando tema de atualidade com o objetivo de vender bem na largada e perder força depois de algum tempo. Precisa de novidades, de bastidores, etc.

      Há quem sustente que cibercultura e cybercultura são coisas diferentes. É aquela história: modista virou fashionista. Faz parte do nosso show. A rotina é entediante. “Tormenta” não é um livro contra Jair Bolsonaro. É uma reportagem sobre como ele se elegeu e como governa. Mostra o homem antes e depois do poder. Afirma que, na largada, ele sonhava com dez por dos votos nas eleições. Revela como ele vive nos seus palácios. No Alvorada, instalou seu escritório no closet, entre gravatas, camisas e camisetas de clube de futebol. É o lugar que lhe parece mais aconchegante. Apresenta o seu medidor de intimidade. Se ele, numa conversa, usa muitos palavrões como interjeições, sinal de que está entrosado com o interlocutor. O número de palavrões utilizados indica que Dias Toffoli, presidente do STF, virou amigo de infância. O livro aborda também a relação com Moro.

      Jair Bolsonaro precisava de Sérgio Moro para dar lustro ao seu governo. Agora, examina as alternativas: se põe Moro no STF, pode fortalecê-lo e não necessariamente ficar livre dele em 2022. Se não põe, pode ganhar um inimigo e um concorrente fatal na próxima eleição. Se o demite logo, o estrago será grande, mas o tempo poderia aliviar a pressão. O que fazer? Convidá-lo para ser vice no lugar do general Mourão parece a aposta mais razoável. Thais Oyama conta que Bolsonaro pensou realmente em demitir o ministro da Justiça na primeira grande crise entre os dois. Foi convencido a desistir da ideia pelo general Heleno com um argumento sutil: “Seu governo acaba”. Bolsonaro recuou.

      Um instant book se faz assim: algumas novidades, análises, bons segredos requentados, bastidores e subterrâneos. Cerca-se o objeto comendo pelas bordas, da periferia para o centro. Os excluídos sempre dão boas informações ou fofocas. O demitido Gustavo Bebbiano não poderia faltar ao baile. Bem escrito, fluente, leve, picante, “Tormenta” merece a leitura. Quando falta espaço nos jornais para as grandes reportagens, elas viram instantâneos em forma de livro com o selo de grandes editoras em busca de algum sucesso de verão. Leitura interessante para final de semana na praia. É mais instigante do que uma noite de canastra. Fica-se, no caso, sabendo muito sobre Alberto Fraga, amigo do deputado Jair, que ainda poderá virar ministro.


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