Um belo poema de Luiz de Miranda

Um belo poema de Luiz de Miranda

Poeta recupera-se de uma cirurgia

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Canto LXXV com Juremir Machado da Silva
Luiz de Miranda

Não me dobro
nem recuso a dor entregue.
Sofro,mas renego o sofrimento
e em puro lamento canto o devir
com a força da esperança,
flor de uma criança,
que nasceu para vencer os dissabores
nos albores da meia-noite,
quando palpita uma estrela por mim
no meio da eternidade sem fim.

Na toada que me cabe escrever
deixo pulsar o antigo viver
na palma da minha mão
e teço no mar sagrado
a linha de luz do vento,
com ela chego mais longe
no barulho das folhas
no grande arvoredo do outono.

E assim volto a sorrir
diante da solidão,
como quem ama a paixão
que dilacera meu ouvido,
como a batida,
seca e dura,
de toda a nossa vida.

Vou pela estrada
na lira pura
que põe voo
nos pés cansados
e chego ao mar
em poucos dias
na frente do vento
que põe anos no pensamento.
Levo na memória
metade do trajeto
e faço antes história
que rasga o fundo
do longínquo passado
e aí outro mundo livre
das flores do pampa
e da liberdade no que vive,
onde Juremir Machado da Silva
é o que mais escreve
sobre o espanto da linguagem
nesta longa viagem.

*NA foto, na Feira do Livro de Porto Alegre, em 1999, este blogueiro, o editor Luís Gomes, Michel Houellebecq e Luiz de Miranda.


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